FALATÓRIO
Vou à rua e falo
com as pessoas
Numa linguagem
que todos conhecem
Do dia a dia, do
governo, da Europa
Das guerras e de
outras coisas banais
Falo às vezes
também sozinho
Também olho a lua
e o céu
Aquele céu tão
azul a contracenar
Com o vermelho
desta terra
Tão cheia de
maldições humanas
Vou à papelaria
Compro um mísero
jornal
Cumprimento o meu
vizinho do lado
Cansado e doente
de tanta idade
A contrastar com
a mocetona
Que passou mesmo
junto a nós
Ai que saudades
eu tenho
Do tempo passado
e ingrato
Que vai fugindo
sem dó
Nunca mais o irei
agarrar. Eu sei que não
É trágico muito
trágico
Como aquele
furação
Que passou no
outro lado do Atlântico
Foi naquele pais
que eu conheço
Apenas e só
geograficamente
Mas que eu também
falo dele
Talvez por bem
conhecer
Algum jogador de
foot-ball
Ou alguma estrela
P.O.P..
Vou à rua e
desabafo
Como se fosse
curandeiro
Dos males do
Universo
Este Universo sem
esperança
Tão cheio de
horrendos pavores
Que dançam ao
ritmo
Do sangue, da
angustia, da solidão
Num grito feroz
Que assusta
qualquer animal
Por mais selvagem
que seja
Nas longínquas
savanas
De uma África
faminta
Ou de uma
Antártida gelada
Corroendo as
avalanches do desespero
Até com as
arvores eu falo
Elas ouvem-me e
abanam as folhas
Mas não me
respondem
Impotentes na sua
roupagem agreste
Quando eu falo
dizem que estou louco
É a minha
consciência que se liberta
Esperando que
nesta terra
Os cadáveres
tenham uma palavra a dizer
E não apareçam
apenas nos jornais
Com uma cruz em
cima
Ou feitos
mártires
Desta sociedade
de consumo
Que não se
consome apenas
Na papelaria da
minha rua.
ARIEH NATSAC
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