quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

TUDO SE TRANSFORMA

TUDO SE TRANSFORMA


Sorrisos, abraços beijinhos
Tu para cá e tu para lá
Parecemos todos bonzinhos
Mas só o futuro nos dirá


Se estamos bem tudo são alegrias
Ai como se trocam galhardetes
Se a linguagem muda de fonia
Então esgrimem-se os floretes


Deus é que tinha toda a razão
O mundo iria ser amargo como fel
Temos que também saber dizer não


Tornarmos o ácido em doce mel
Se está mal… estendermos a mão
Sem fazermos nova torre de Babel.



                                                                 ARIEH  NATSAC


JANELA INDISCRETA


JANELA INDISCRETA



Olha: que gente vai a resmungar
Rústicas sentinelas, olho alerta
E circunspecto fica o meu olhar
Vendo tanta maldade descoberta


São vultos insurretos que aqui passam
Maldizendo, a tão triste vida alheia
Alguns deles retalham e amordaçam
Com mexericos feitos como teia


Ardil das aves negras, com umbigos
De sorrisos, lacaios quais mendigos
Amantes da cusquice, todo o dia;



Espalham seus fantasmas…fantasias,
Falam com tanta raiva e alergias
Inventam maldições – são suas crias –

                                                           ARIEH  NATSAC


O CANDEEIRO DE SALA


O CANDEEIRO DE SALA



Caem as noites frias sem ter luz
Pendurado sem vivalma que te olhe
Teu brilho de metal é contra-luz
Numa luz que agora não te escolhe


Perdeu-se o esplendor as alegrias
O velho riso se ouvia sem mistério
Taças que se erguiam nesses dias
E tu iluminavas esses tempos etéreos


Foi-se o frémito que te alegrava
Teu corpo enegreceu e sem ter vida
Apenas és cenário que flamejava


Nas consteladas noites mais regadas…
Até voltares de novo a guarida
Passas agora por horas ignoradas.


                                                                 ARIEH  NATSAC

COMO EU SEI ESCREVER

COMO EU ESCREVO…



Quando me sento à secretária
Revejo sempre o meu interior
Escrevo sobre matéria tão vária
E entrego-me com muito amor


Não sei se escrevo bem ou mal
Se a pontuação vai correcta
Mas que escrevo eu afinal?
A minha vida em linha recta


Cabeça é  general que comanda
Coração promovo-o a ordenança
Dedos soldados na corda-bamba


Fazem fogo cruzado sem ter mira
No amor, saudade sem ter parança
E assim o general satisfeito se retira.


                                                         ARIEH  NATSAC

 
                                            http://www.youtube.com/watch?v=M3MH9SoJTy0&feature=related

ANO NOVO...?

ANO NOVO…?



Salta o tempo sem ter tempo
Horas, minutos são segundos
Esquecem-se sentidos lamentos
Neste intemporal vagabundo


Risos em gargalhadas sonoras
Espirituosos soltam-nos a língua
Mais parecemos aves canoras
Esquecendo qu’estamos na mingua


Corremos em busca do incerto
Saltamos sem atingir o desejado
Buscamos uma miragem no deserto


Que chega como vela que s’apaga
Neste pavio que arde sem nada
E alegria é uma tristeza que se traga.



                                                                         ARIEH  NATSAC



AQUELE BRANCO VINHO


AQUELE BRANCO VINHO…



Senti-me honrado cavalheiro
Convidei-te para modesto jantar
Jurei que não seria o primeiro
E tentei fazer por te agradar


Foi num lindo sábado à noite
O tempo estava mais que frio
Nortada que mais parecia açoite
Lá fora tudo andava em desvario


Tiveste as honras de princesa
E tão feliz eu te pressentia
Estava bem composta a mesa


Comias sem grandes pressas
Branco vinho virou filosofia
Que foi turvando nossas cabeças.


                                                              ARIEH  NATSAC

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

É NATAL





É NATAL


É Natal
Felicidade de crianças
Que esborracham os narizes
Contra as montras dos brinquedos
É Natal
Quadra de amor
Que com amor se deveria pagar
E apagar ódios surdos
É Natal
Quando os pinheiros
Se enfeitam de luzes coloridas
E mostram prazeres de crianças
É Natal
Quando os homens são irmãos
Só na fachada feita de escárnio
E escondem suas intenções de vinganças
É Natal
Na terra no mar no ar
Na Europa e no Médio-Oriente
Quando as armas calam o seu falar
É Natal
Onde há canhões e pistolas
Nas mãos das crianças
Que tudo fingem matar
É Natal
Quando um riso de criança
Se mistura com o choro da mãe
Que apenas deu ao seu filho um beijo
É Natal
No campo ou na cidade
Em casa ou na rua
À chuva ao calor
Ao frio num só desejo
É Natal
Reunião com a família
Ou sentado à beira do passeio
Iluminado pela luz do candeeiro
É Natal
Quando canta o galo
Quando nasce uma criança
Sem saber porque nasceu
Neste mundo traiçoeiro
É Natal
Em cada sorriso que lançamos
Às pessoas que não conhecemos
Mas que passamos a conhecer
É Natal
Em cada gesto de amor
Carinho e amizade
Mesmo que seja num só segundo
Para esquecer
É Natal
À porta de uma taverna
Em casa nos braços da amante
Que procura o calor para matar o frio
É Natal
Na prisão no hospital
Onde só há miséria
Que se transforma em desvario
É Natal
Em cada suspiro
Em cada palavra de conforto
Dita que seja uma só vez
É Natal
Quando o avozinho
Conta uma história
Ao seu neto irrequieto
Pela décima vez
É Natal
Quando diante do presépio
Vimos as figuras sagradas
Serem iguais aos olhos do mundo
É Natal
Sim. É Natal
Quando chega o mês de Dezembro
E nos disfarçamos de bons
Num só segundo
É Natal
Sim. É Natal
Quando a nossa consciência acorda
E sonâmbula nos chama
À realidade
Antes de adormecermos novamente
E cairmos na lama.


                                                                    ARIEH  NATSAC