sexta-feira, 29 de maio de 2015

BELOS TEMPOS



BELOS TEMPOS…


Areias escaldantes no verão
Lá se acalmam um pouco com as águas
Que num vai vem recordam tantas mágoas
Nas saudades heróicas que lá vão


Agora aqui deitado que lindeza
Tento-me bronzear e acalmar
Forças retemperar pedindo ao mar
Que me envolva em seu manto, sua alteza


Com o meu próprio espanto disfarçado
E sem que o meu bom gosto haja passado
Eu remiro formosas e gaiteiras



Moças, bem esculpidas quais sereias
Todas descontraídas sem ter peias
Orgulho dessas praias soalheiras.


ARIEH  NATSAC



POEMA PARA O AMANHÃ



POEMA PARA O AMANHÃ


Quando a sórdida morte me levar
Deste mundo feroz onde tropeço
Somente vivas flores eu mereço
Imagem, campa rasa meu lugar


Lá me espera silêncio, enfim vazio
Repouso dum soldado sem ter vida
Que abandonara armas sem guarida
Lamentos do passado, tanto frio


Aquando na ilusão ao céu subir
Vou acordar e ver os pesadelos
Que em sonho me fará aqui voltar


Quisera nessa altura só fugir
Agarrar-me com unhas e cabelos
Ao passado em seus braços não pecar.




ARIEH  NATSAC

PAI DA VIDA...



PAI DA VIDA…



Ó gaiteiro, tu queres sempre festa
Por vezes até perdes o bom senso
Elevas-te entre a fúria e o consenso
Procurando fazer o que te resta


Deveras desvairado, vais em frente
Acabas sendo um mestre em diversão
Fazes acelerar o coração
Num ápice te esvaís tão de repente


És força que alimenta nossas vidas
O fruto das hormonas saltitantes
Delicia de solteiras e casadas


Que procuram sarar intimas f’ridas
Em momentos tão loucos, as amantes
Sentindo-se em prazeres compensadas.



ARIEH  NATSAC


QUERO CONHECER-TE



QUERO CONHECER-TE


Não te conheço nem sei quem és tu
Sei que já no meu peito tu habitas
Meus minutos e horas ressuscitas
Pões em meus sentimentos tudo a nu


Por mim meu pensamento anda tão cru
Desejo que me faças tais visitas
As prometidas sem haver conquistas
Não me queiras julgar um belzebu


Vejo teus olhos, corpo meu enleio
És fogo que pressinto e ateio
Quando contigo falo à distância


Convicto de ir cumprir-se o meu desejo
Saudar-te e sentir teu doce beijo
Tirando do meu peito esta ânsia…



ARIEH  NATSAC


SEM TITULO



SEM TITULO


Lerdos e desleais os governantes
Sacam míseros cobres sem temor
A seres pobres débeis ignorantes
Que apenas se sustentam com a dor


Aqueles que os tiveram do trabalho
Curvados na refrega, todo o dia
Sentindo frio calor sem agasalho
Mentindo com sorriso de agonia


Pisados pela vida inteira foram
– Aos pés de quem bramia violência –
Valentes arrojados crendo ser


Heróis contra os algozes que moveram
Cinismo bem mordaz com arrogância
Impondo sem respeito seu poder.




ARIEH  NATSAC

NÃO POSSO VOLTAR ATRÁS



NÃO POSSO VOLTAR ATRÁS


Quem me dera voltar ao tempo antigo
Correr, saltar jogar sem ter juízo
Depois ouvir palavras, sem aviso
Antes de suportar algum castigo


Castigo bem severo que não qu’ria
P’ra me fazer pensar; era preciso
Mas a vida p’ra mim foi paraíso
Onde comigo andava a folia


Tudo se transformou; e então dilemas…
Uma cruz tão pesada vou levar
Eu não posso fugir de tais esquemas


Reflito só agora no que fiz
Já não posso correr e nem saltar
Nem vou atrás voltar p’ra ser petiz.



ARIEH  NATSAC

PASSEIO POR UM CERTO JARDIM



PASSEIO POR UM CERTO JARDIM…


Passeio p’lo jardim onde eu outrora
Andava, repousava sem te crer
Vi em ti flor viçosa a florescer
Eras uma constante e terna aurora


Porque de mim te foste saturar
Tua ausência causou-me uma saudade
Se é coisa que não passa co’a idade
É mesmo até capaz de piorar


Ainda sinto o cheiro do jardim
Aquele das tão belas violetas
E onde andavas atrás da passarada



E hoje sem ver-te olhar mais p’ra mim
Sem poder triunfar nas minhas metas
Sofro por sina em mim, tão mal fadada…


ARIEH  NATSAC

domingo, 24 de maio de 2015

SE UM DIA...



SE UM DIA…

Se um dia eu tivesse algum desejo
De colocar em prática o motivo
Da mente sairia qual despejo
Ideias p’ra escrever tardado livro


Contava minha vida sem favor
Transparente das noites que passei
Quantas maravilhosas com amor
Lembradas nas marés que escreverei


Soltei-me entre paredes tão vazias
Forrei-as de poemas acordado
Páginas que nasceram sem ter medo


De misturar também as ousadias
Que foram temporais do meu passado
Liberto-me ao contar tanto segredo.



ARIEH  NATSAC

PÓ SEM VENTO...



PÓ SEM VENTO…



Parecem-nos tentáculos que agarram
As presas que deslizam em surdina
Quando sedentas de algo que termina
C’as belezas da vida em que s’amarram


Entre pastilhas pó em que s’esbarram
Escrevem entre escombros sua sina
Do tão puro fazendo uma chacina
Quando da sua vida se desgarram


Uns vândalos ferozes que s’esquecem
De fumo negro, nuvens qu’entontecem
Uns guerreiros sem vida nem espada


Pensam que são heróis sem que fizessem
Tal como D. Quixote, desvanecem
E tornam sofredora, sua amada.




ARIEH  NATSAC
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O BAILARICO...



O BAILARICO…


Cantam ao desafio em romarias
Até bailam cansados finos pés
Vão trocando Maneis por outros Zés
Enchendo o coração com alegrias


Nos vestidos perfeitas sintonias
Onde em corpos deslizam quais marés
Carícias e meigos cafunés
Alimentam sorrisos com magias


Na música se embalam sem parar
Escolheram de vez aquele par
Bailando numa entrega noite fora


Toca na sua mente a nupcial
Marcha p’ra uma vida triunfal
Não pára de pensar, bendita hora.



ARIEH  NATSAC

sábado, 23 de maio de 2015

ABRE-SE A LUZ...



ABRE-SE A LUZ…


Abre-se a luz tão pálida no céu
Sinal que a madrugada vai chegar
Tudo corre p’ra a vida, a fumegar
Com olhar circunspecto ou peito ao leu


Também se preza, crente e o ateu
Nas linhas do destino se cruzar
Co'a suplica vertigem de um olhar
Ao ver que em terra firme se doeu


Ninguém, bastante amargo não importa
Para onde vão alegrias e gemidos?
São cúmplices de olhares indiscretos


Escolha do caminho é folha morta
Onde passam humanos atrevidos
São uns balões inchados tão seletos.



ARIEH  NATSAC



SÓ FACHADA...



SÓ FACHADA…


Quantos prisioneiros de fachadas
Com pensamentos lindos adormecem
Descansam a sonhar belas moradas
De olhos bem fechados s’envaidecem


Pensam que o mundo é rico, mas tão pobre
Que seus portos de abrigo são de mais
Mas com olhos molhados vêem cobre
Palácios servidos sem bornais


São ilusões sofridas em exaustão
Sem a sorte esvoaça tudo em vão
Fronteira da ganância faz sofrer


Noutras terras alheias foi gerado
O desespero virou novo fado
Porque nem sempre crer é o poder.



ARIEH  NATSAC

SE O TEMPO PARRASSE...



SE O TEMPO PARASSE…



Se o tempo aqui parasse p’ra te ver
Qual água em mansidão numa lagoa
Ao mundo gritaria p’ra dizer
O que antes fora vida por Lisboa


Aos sábados à noite bela farra
Corriam-se as vielas escondidas
Onde com seus odores lá s’esbarra
Sem haver preferências destemidas


Hoje estou tão cansado que só penso…
Das loucuras fulgor matou imenso
Aquilo que de jovem já perdi


Outrora eu levava tudo em frente
No passado repouso docemente
E somente recordo o que vivi.



ARIEH  NATSAC

NOVO POSTO...



NOVO POSTO…


Neste país liberto mas com medo
Cruzam-se muitos braços destemidos
Na bruma já tiveram seu degredo
Perdido no caráter dos sentidos


Estamos arrojados mas uns velhos
Vimos a liberdade porta fora
Já nos doem as mãos e os artelhos
Aguarda-nos cansados negra hora


Embora construindo novo posto
Poente definhado, tão estranho
Sentinelas inertes de um só rosto


Na estrada pedregosa junto ao fim
Lembramos belos dias de um antanho
Caminhamos sem marcha nem clarim.

ARIEH  NATSAC


O POETA LIBERTO...



O POETA LIBERTO…




Liberta-se o poeta quando escreve
Respira sentimento, quanta dor
É timoneiro, mestre, almocreve
Que irradia palavras com fervor


Rebelde apaixonado tão seguro
Porém suas convicções, não as herde
Ele pode parecer um imaturo
Mas terá sempre alguém por quem se perde


Sua escrita será bem diferente
No contexto vigora a semente
Que no poema irá fortalecer


P’ros amigos, poeta também sou
Co’os meus dedos, poemas eu lhes dou
E nem todos, consigo convencer.



ARIEH  NATSAC



A VIDA É UMA FEIRA



A VIDA É UMA FEIRA


Nesta feira da vida fui comprar
As horas a retalho sem querer
Podendo nos meus dias me orientar
Quando na solidão, me corroer


Exaspero no chão que vou calcar
Impossível será não o perder
Sem donativo certo vou gastar
Tempo que acabará por me vencer


Se um dia o panal se levantar
E a tenda voar sem haver nada
Mostra que o temporal aqui passou


No local ficará a relembrar
Que após muita conversa desfiada
Tudo o que comprei, já se gastou.



ARIEH  NATSAC

sexta-feira, 22 de maio de 2015

A PRESSA...



A PRESSA


Já ontem era tarde…disse eu
Mas com tamanha pressa contamino
O que vou escrever e é só meu
E poderá mudar o meu destino


Mordaz e repentista com firmeza
Sigo sempre na frente sem temor
Com palavras diretas de crueza
Ferindo qualquer tema sem ter dor


Não tenho culpa qu’isto seja assim
Não quero renegar, que sai de mim
Pois vou continuar sempre sincero


Nunca me importa aquilo que serei
Devagar ou depressa escreverei
Pois só meu pensamento delibero.



ARIEH  NATSAC