segunda-feira, 27 de junho de 2016

DE LISBOA ATÉ AO CABO



DE LISBOA ATÉ AO CABO…

Como te admiro Lisboa
Do alto do teu castelo
Aonde o sol te atordoa
Neste cenário tão belo

Desces vaidosa e ladina
Num andar que não ilude
E a Mouraria fascina
Com a senhora da saúde

E aqui mesmo em oração
Onde o fado é sempre vicio
Na rua do Capelão
Nasceu Fernando Maurício

Seguindo o teu ritual
Na calçada Portuguesa
Onde o Marquês de Pombal
Te alindou com mais nobreza

De amarelo ia ligeiro
Um elétrico atrelado
Onde o comum passageiro
Andava por todo o lado

Alegria não te falta
Mesmo no escuro basalto
Anda e desanda a malta
P’las noites do bairro alto

Onde Camões e Pessoa
Não deixam de ser lembrados
Sua mística ecoa
Entre graçolas e fados

E o lisboeta sussurra
Entre as vielas de Alfama
Com muitos copos e surra
Muita gente se difama

Passo largo, co’a maré
Tem no Tejo um aliado
Cacilheiro leva o Zé
De Lisboa ao outro lado

Quando a noite desfalece
Acorda-se com um café
E muita gente aparece
Nas docas do Cais do Sodré

O dia acorda risonho
Co’o cheiro da maresia
Misturada com medronho
Que serve de anestesia

O bulício vem depois
O barulho dos motores
Onde puxam dos galões
Meliantes e doutores

Mas a cidade se espraia
No meio do sol ou bruma
Tanta calça tanta saia
Que desliza como espuma

Sob a terra ou mesmo em cima
Lá começa o desafio
Cada hora é uma rima
Cada passo um arrepio

Aparece quem trabalha
O que vai sendo tão raro
Desespero se amortalha
Porque o pão está mais caro

Cada vez há mais pedintes
Que não querem fazer nada
Já não fumam os três vintes
Preferem outra pedrada

Por uma linha se desce
Vê-se beleza sem par
No verão mais apetece
Essa mesmo desfrutar

Vem Belém lembrar história
Época dos descobrimentos
É o nosso orgulho e glória
Expressa com monumentos

O encanto ainda é maior
Di-lo cético turista
Pois o mar e o seu calor
E a perícia do surfista

Carcavelos e a Parede
S. Pedro mais Tamariz
Deitar ao sol – tudo pede –
Faz muita gente feliz

Do bronze segue-se a noite
Cascais é um mar de gente
Doce brisa é seu acoite
Com um luar diferente

Dois passos mais adiante
Está a boca do inferno
Onde o mar é provocante
Co’a sua fúria de inverno

Seguindo p’la estrada fora
Vê-se a imensidão do mar
Que desbravamos outrora
Para mais longe chegar

Se o vento vem do norte
Faz da estrada um areal
Temos então pouca sorte
Levantou-se um temporal

Tudo tem sua beleza
Sem se conseguir passar
O vento montou a mesa
Com areia pelo ar

Pelos Oitavos ficamos
Onde Hildebrand encalhou
Hoje ainda nos lembramos
P’ra onde o mar o levou

Entre rochas e areais
Estas belezas eu “pincho”
Por serem tão naturais
Marinha, Abano e Guincho

Cada uma é diferente
Entre o mar e os pinhais
Mas aqui seja prudente
Porque as ondas são fatais

Foi aqui neste caminho
A quem o Camões chamou
O mais ocidental cantinho
Do Portugal que cantou

Cabo da Roca mostrou:
Finda a terra o mar começa
Um povo se aventurou
Tendo mundos na cabeça

Aqui findo esta viagem
Toda a beleza nos toca
Desfrutando esta paisagem:
Lisboa ao Cabo da Roca.



ARIEH  NATSAC







DE MARCENEIRO ATÉ AO FADO



DE MARCENEIRO ATÉ AO FADO

Alfredo Rodrigo Duarte
Desde 1891
Do fado foi baluarte
Só houve ele e mais nenhum

Nasceu em Santa Isabel
Freguesia de Lisboa
Sua voz sabia a mel
Para nós ainda entoa

Marceneiro era vaidoso
Poucos tratava por tu
Do fado foi virtuoso
Por alcunha era o Lu Lu

P’la mão de um tal Janota *
Fadista improvisador
Nessa altura já denota
Um dote p’ra ser cantor

De fado…com devoção
Em festa no S. Luís
Foi de prata a distinção
E fê-lo muito feliz

Sua arte marceneiro
Na Cuf móveis fazia
P’ra navios no estaleiro
Mas seu tempo dividia

Com o fado grande paixão
Começando sem abuso
Mas teve a consagração
Rei do fado em café Luso

Obteve grandes sucessos
Primeiro co’a mariquinhas
A casa com seus excessos
Das janelas com tabuinhas

Foi de Viela em viela
Mocita dos caracóis
Apaixonou-se por ela
Foram felizes os dois

Se amor é água que corre
É como um fado bailado
Nas veias em nós corre
Como sendo o nosso fado

Como me lembro de ti
Numa tasca sem vintém
 – Bêbedo pintou ouvi –
Encontrou amor de mãe

Menina lá do mirante
Cantada com sentimento
Expresso no seu semblante
Como é belo esse momento


Muitos fados nos cantou
Até sua despedida
Muitas saudades deixou:
Fados que cantou em vida

De lenço sempre ao pescoço
Com óculos e um cigarro
Sua pose era um colosso
Sendo um fadista bizarro

Tio Alfredo conhecido
Na arte de cantar fado
Mérito reconhecido
Quando foi agraciado

Pena não ter sido em vida
Só morto se tem valor
Minha homenagem sentida
Ao rei do fado, o maior.


ARIEH  NATSAC


* Júlio Janota fadista que o lançou no fado.