sexta-feira, 10 de maio de 2013

CHISPAS QUE O TEMPO SERVE





CHISPAS QUE O TEMPO SERVE

Lavadeiras de Caneças
Não comem pastéis de nata
Porque a nata da vida
É a roupa suja que na água desliza
Nas magoas das suas dores
Sentidas nas olheiras cavas
Que no seu peito ardem
Nas custas da desventura
Pagas com juros a longo prazo
Balanço em que o deve
Suplanta o haver
E o inventário são as penas
Que chora e vão nas lágrimas
Curtidas pelos escolhos
Que enrugam a sua pele
Como formão que abre as fendas
Nas tábuas do seu caixão
Trazido pela mula da vida
Numa viagem que vem sei lá de onde
Tanto pode vir de Londres
Como de Freixo de Espada à Cinta
Sem hora nem dia marcado
Tanta lágrima tanta dor
E os rios transbordam nas margens
Arrastando quem anda na vida ao relento
Olhando a lua vaidosa
E lendo livros sacros
Numa penitência que serve o calvário
Cruel e íngreme
Que se desfaz na boca
Como a nata de pastel
Aplicada na tela da vida.


ARIEH  NATSAC

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