CHISPAS QUE O TEMPO SERVE
Lavadeiras de
Caneças
Não comem pastéis
de nata
Porque a nata da
vida
É a roupa suja
que na água desliza
Nas magoas das
suas dores
Sentidas nas
olheiras cavas
Que no seu peito
ardem
Nas custas da
desventura
Pagas com juros a
longo prazo
Balanço em que o
deve
Suplanta o haver
E o inventário
são as penas
Que chora e vão
nas lágrimas
Curtidas pelos
escolhos
Que enrugam a sua
pele
Como formão que
abre as fendas
Nas tábuas do seu
caixão
Trazido pela mula
da vida
Numa viagem que
vem sei lá de onde
Tanto pode vir de
Londres
Como de Freixo de
Espada à Cinta
Sem hora nem dia
marcado
Tanta lágrima
tanta dor
E os rios
transbordam nas margens
Arrastando quem
anda na vida ao relento
Olhando a lua
vaidosa
E lendo livros
sacros
Numa penitência
que serve o calvário
Cruel e íngreme
Que se desfaz na
boca
Como a nata de
pastel
Aplicada na tela
da vida.
ARIEH NATSAC
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