segunda-feira, 30 de abril de 2012

O TEU CORPO É PRIMAVERA




O TEU CORPO É PRIMAVERA




Teu corpo é a primavera
Minha flor fresca botão
Pois a mim quem me dera
Colhê-lo na minha mão


Punha-te no meu jardim
No mais lindo canteiro
Queria-te só para mim
A florir o ano inteiro


Serias a mais viçosa
Das flores qu’ eu algum dia
Chamar-te-ia só de rosa
Que à virgem eu of'recia


Punha-te no meu altar
Em oração te pedia
Para nunca me faltar
O amor qu’ eu mais queria.



ARIEH  NATSAC

AS NOITES QUE EU PASSEI


AS NOITES QUE EU PASSEI…
(Do Fado Fria claridade)



Quando passei à tua porta
Não me deixaste entrar
Nossa paixão está morta
Como as noites sem luar


Foram tantos os momentos
Beijos com tanto amor
Agora ficam lamentos
São como sol sem calor


As noites que eu passei
Murmurand' ao teu ouvido
Nunca mais as esquecerei
Perderam tod' o sentido


Assim a vida se corta
Não há nada p'ra contar
Nossa paixão está morta
Como as noites sem luar.


            ARIEH  NATSAC

É POR TI QUE EU LUTO


É POR TI QUE EU LUTO



Na vida onde me encontro
É com o futuro que me defronto
No caminho que vou desbravar


Na vida porque labuto
Para te encontrar eu luto
Antes do meu final chegar


Mas a vida é um vai e vem
Que não conhece ninguém
Que nela passa ao acaso


É um pássaro sem norte
É o marco antes da morte
É um ritmo sem compasso


Na vida quero ser teu caminho
Cobrir-te como lençol de linho
Suspirarmos no mesmo afecto


Na vida quero ser teu corcel
Sentir o cheiro da tua pele
Abraçar teu corpo irrequieto.




                                                                                 ARIEH  NATSAC

http://www.youtube.com/watch?v=-VDi2enXb20&feature=related 

AI DE MIM AI DE MIM


AI DE MIM. AI DE MIM…



Foi-se a noite nasceu mais um dia
Vou-me fazer à estrada da vida
Estrela cintilando...alumia
Faz-me esquecer solidão sofrida


Pergunto às aves que esvoaçam
O rumo que fica mais perto
P'ra levar dores que trespassam
Neste inferno que me trás encoberto


Dias amargos que cruzam o peito
Punhais que não os consigo evitar
Sangrando em tiras já tão desfeito
Ai de mim. Ai de mim … Não os vou afastar.




A VINGANÇA


A VINGANÇA…


Na escola do pensamento
Eu aprendi a bem pensar
E com a linguagem do tempo
Também consegui acordar


Tuas palavras são tão claras
Tão cheias de más intenções
Voam como aves  bem raras
Disparadas são como arpões


Mas não sou um analfabeto
E nem me custou a entender
Que o meu espírito aberto
Estava a empobrecer


Perdi-te todo o respeito
Tenho de ti grande temor
Porque não conheço o jeito
Que usas com o teu rancor


Só me resta ter a certeza
Guardá-lo bem na lembrança
Não quero ser essa tua presa
Nos teus olhos vi a vingança


Mas olha para o que te digo
Deves pensar sempre um bocado
Não queiras ir à lã comigo
Para não vires tosquiado.

ARIEH  NATSAC

domingo, 29 de abril de 2012

POBRE CRIANÇA


POBRE CRIANÇA…

Aquela criança
Que ali vai
Descalça, rota
E semi-nua
Corre em busca
De uma ilusão
Que o tempo lhe esconde.
Não tem cadernos diários
Escreve nas linhas
Do presente
Um futuro rasgado
Pela marginalidade
Que vai ganhando
Como troféu
Que lhe foi imposto
Por quem o deixou
No mundo.
Brinca na lama
De um barro
De que é feito
E que se vai partindo
Na angustia
Que o consome
Na fome
De algo que procura
Para a satisfazer.
Raiz de torga
Mal amada
Vai chutando
Uma lata velha
Que lhe faz companhia
Nas suas brincadeiras
Como se quisesse chutar
O seu desespero
Mas mesmo assim sorri
E abre os braços
À vida
Estúpida
Agreste
 Cobarde
Que o atirou
Pela escada abaixo
Sem ter ainda
Subidos os degraus
Que o levarão
Aquilo que lhe está destinado
Pobre criança
Sem pão
Sem amor
Sem roupa
Mas que tem
Sempre um sorriso
Na boca.

ARIEH  NATSAC

SAMBINHA DA CHUVA


SAMBINHA DA CHUVA

Chove, chove, chove
Chove, chove até fartar
Chove, chove, chove
Mas deixa-me ir sambar.

Chove, chove, chove
Chove, chove até amanhã
Chove, chove, chove
Para regar minha hortelã

A chuva que vai caindo
Faz bem ao meu pais
Dá fartura a toda a gente
Faz o meu povo feliz.

Se estou a pedir chuva
Não me levem isto a mal
Pois só quero que não chova
Para brincar meu Carnaval.

Chove, chove, chove
Chove, chove até fartar
Chove, chove, chove
Mas deixa-me ir sambar

Chove, chove, chove
Chove, chove até amanhã
Chove, chove, chove
Para regar minha hortelã

Ninguém gosta de chuva
Mesmo com horta no quintal
Pois calor é uma luva
E sem roupa é natural

Tudo quer é sambar
Nesses dias de folia
Tudo sai para quebrar
Seja noite ou mesmo dia.

AS VOLTAS DA VIDA


AS VOLTAS DA VIDA


Vivo a vida num corridinho
Em aceleração (in)constante
Nele sigo um doce caminho
Que me (en) caminha doravante

Entre as notas de um fandango
Troco os passos à minha sorte
E sinto que de vez em quando
Eu tropeço nos passos da morte

Numa chula vou rodopiando
Chula lança vida que (re)marca
Os (com)passos por onde desando

E num vira que a qualquer farta
Naquelas horas sem ter comando
Num bailado que ninguém aparta.


sábado, 28 de abril de 2012

TEU CORPO É MEU VIOLÃO


TEU CORPO É MEU VIOLÃO

Teu corpo é o violão que eu toco
Nas cordas de um desejo sem pauta
Beijo tua boca em suspiros e fico louco
Numa partitura sem notas tão incauta

Melodia que sempre (me) sabe a pouco
Mas qu’a mim flor sem tempo fazes falta
Vou tocando em desvario e fico mouco
Esqueço-me qu’a tua amplitude é alta

De desejos vou ao fim dos teus suspiros
Acordes que me enlevam em desatinos
Lânguidos de semi-breves e tons finos

Orquestrados sons sensuais que respiro
Perfumes qu’embriagam nossos retiros
Qu'escondem notas. Nossos destinos.


FECHA-SE O TEMPO


FECHA-SE O TEMPO


Fecha-se o tempo num tempo passado
São bolas de sabão que voam perdidas
Resquícios de horas num tempo irado
Que jaz no meu (des)peito tão ressequido

(Cl)amor que volatilizou tempestade
D’um negrume que me escurece a alma
Perdida (en) contra marés de eternidade
Que o meu olhar já chora sem ter calma

Houvera noite escuridão imatura
Presa em luares que m’aquecem o rosto
Na solidão que solta ais sem candura

Como mês que rompe sem ser Agosto
Onde é desejo efémero de alvura
No meu rio (sem) cidade ao sol posto.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

O DESEMPREGO


O DESEMPREGO…

Fecha tudo em Portugal
Aumenta o desemprego
P’ra nosso sustento afinal
Vamos pôr tudo no prego

Enchem bem a carteira
Pagam mal a quem trabalha
Alguns uma vida inteira
Ficando só com a limalha

Os patrões esses mafiosos
Tiram-nos coiro e cabelo
Parecem uns cães raivosos
E o dinheiro nem vê-lo

Fecham fábricas e empresas
Sem o governo actuar
As pessoas ficam tão tesas
Que só podem é gritar

Grita o povo e se manifesta
É seu modo de lutar
Eles fazem uma festa
Com champanhe e caviar

Esses nulos de labita
Fazem-nos a vida num inferno
E com caras de ermita
Têm a protecção do governo

São eles seus accionistas
Enche-se o pai o filho e o tio
São todos uns oportunistas
É tudo de fio a pavio

Dizem qu’ o país vai melhorar
Com língua bem afiada
E nós sempre agonizar
Pisados por esta cambada

Riem-se à nossa custa
Acham-nos com cara de tansos?
Vão pregar a Santa Justa
Comecem a trabalhar malandros.


terça-feira, 24 de abril de 2012

O PAÍS QUE TEMOS


O PAÍS QUE TEMOS

Meus país é um manancial
Que muitos políticos tem
Todos lhe apontam o mal
Mas ao mal não fazem bem

Este país já não é nosso
A troika até manda em nós
Ai Jesus que já não posso
Se quer erguer minha voz

Eu falar ainda posso…
Mas já de pouco me vale
Pois a barriga já coço
É grande o nosso mal

Andam p’lo estrangeiro
Sempre, sempre a mendigar
Pois se há falta de dinheiro
Porque não querem trabalhar

Cada vez há menos emprego
A juventude não o tem
E como seu aconchego
Não saem de casa da mãe.

Julgam-se grandes políticos
Andam o país a vender
Parecemos uns paralíticos
Já não nos podemos mexer

Uns eram do M.R.P.P.
Queriam era brincadeira
Viraram à direita como se vê
Para encherem a carteira

Outros andavam ao colo
Quando Abril aconteceu
Agora chamam de tolos
A quem por eles sofreu

É vê-los na assembleia
Por vezes a bocejar
Outras de volta e meia
O parlamento a insultar

Que falta de educação
Dão ao país inteiro
E esta nova geração
Imita quem está no poleiro


Por meterem tanta agua
Temos o país a boiar
Choramos de tanta mágoa
Ainda vamos naufragar

Anda tudo a roubar
E fazem um figurão
São capazes de matar
Sem irem para a prisão


Abusam das criancinhas
Depois dizem-se inocentes
Não passam d’ uns choninhas
Até choram…que comoventes

Ó que país desgraçado
Onde é que vamos parar
Seu orgulho está mutilado
E sua história a sangrar.

domingo, 15 de abril de 2012

RESPOSTA OPORTUNA


 RESPOSTA OPORTUNA…


Fui à farmácia outro dia
P’ra comprar medicamentos
Depois de dar os bons dias
Vi que também lá havia
Um médico com seus lamentos

Apertei-lhe a sua mão
Pois ele é meu conhecido
Deste povo era um irmão
Nunca dizia que não
Nos momentos de perigo

Foi meu médico em criança
As maleitas me tratou
Era médico de confiança
Pois tínhamos nele esperança
E sempre nos considerou

Cheguei-me dele mais perto
E com alguma malícia
Com um ar circunspecto
Ao ver o seu aspecto
De mal não havia notícia

O doutor também está doente?
Aqui na farmácia o vejo
Ele respondeu prontamente
Olhando-me bem de frente
Olhe que não é meu desejo.

Agora pergunto-lhe eu:
Os padres também não sofrem?
Eles não falam com Deus?
Não livram pecados seus?
Então porque é que morrem?


ARIEH  NATSAC

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A GREVE DOS LIVROS



A GREVE DOS LIVROS..



Alguns livros num certo dia
Fizeram a greve geral
Viram todos em sintonia
Qu’ os andavam a tratar mal

Andavam sujos e rasgados
Eram atirados p’lo chão
Por uns meninos estouvados
Não tinham consideração

Quem abriu hostilidades?
O livro de filosofia
Foi dizendo umas verdades
E toda a gente o ouvia

Logo a seguir teve a palavra
Falou com um certo engenho
Dando o risco de sua lavra
O compêndio de desenho

Começarei por correr mundo
Por isso vou meter férias
Isto por cá está imundo
Nem parecem coisas sérias

Tens toda a razão geografia
Conheço as tuas histórias
Sou Português sem teoria
Sei as tuas memórias

Noutro recanto desta sala
Uma outra reunião
Ninguém entendia a fala:
O Francês, Inglês, Alemão

Levantou-se a Matemática
Rindo-se de tantos teoremas
Vou sair de forma prática
Eu não desejo mais problemas


ARIEH  NATSAC