sexta-feira, 10 de maio de 2013

O MEU DESENHO



O MEU DESENHO




Com uma régua fiz um desenho
Eu que não tenho jeito nenhum
Fi-lo mais parecendo um desvio
Dum comportamento inadequado


Sentei-me no chão. Sentei-me…
Para o ver melhor ainda
Apenas vi algo a que chamei isso
Desenho e eu desdenho do que fiz


Desviei-me do conceito da palavra
Pudera…só eu o soube fazer
Quem me contradisser
Talvez tenha um traço sem régua


É tudo uma questão de lógica
Mas a lógica nem sempre é aquilo
Que nós queremos ou desejamos
O neutro está entre o positivo e o negativo.



ARIEH  NATSAC

PARECE MENTIRA



PARECE MENTIRA…


Castelo de vento
De ameias de sol
Onde o crepúsculo vem poisar
Para ver o mar para lá do imaginário
Setas apontadas ao raiar da esperança
Feita criança endiabrada
Que corre em busca do nada
Num corpo cinzento e magro
De braços estendidos
Para um futuro que foge
Mesmo estando tão perto
Agonias de uma guerra sem limites
Onde as balas se perdem
Como o fumo que desmaia
Na calçada do progresso
Tão verde que mais parece amarela
De tanta fome que brota
Da terra árida e pedregosa
Onde os espinhos das rosas
Parecem arpões atirados
Como mortais labaredas
Dum inferno que nos sustenta.




ARIEH  NATSAC

CHISPAS QUE O TEMPO SERVE





CHISPAS QUE O TEMPO SERVE

Lavadeiras de Caneças
Não comem pastéis de nata
Porque a nata da vida
É a roupa suja que na água desliza
Nas magoas das suas dores
Sentidas nas olheiras cavas
Que no seu peito ardem
Nas custas da desventura
Pagas com juros a longo prazo
Balanço em que o deve
Suplanta o haver
E o inventário são as penas
Que chora e vão nas lágrimas
Curtidas pelos escolhos
Que enrugam a sua pele
Como formão que abre as fendas
Nas tábuas do seu caixão
Trazido pela mula da vida
Numa viagem que vem sei lá de onde
Tanto pode vir de Londres
Como de Freixo de Espada à Cinta
Sem hora nem dia marcado
Tanta lágrima tanta dor
E os rios transbordam nas margens
Arrastando quem anda na vida ao relento
Olhando a lua vaidosa
E lendo livros sacros
Numa penitência que serve o calvário
Cruel e íngreme
Que se desfaz na boca
Como a nata de pastel
Aplicada na tela da vida.


ARIEH  NATSAC

quinta-feira, 9 de maio de 2013

LIBERDADE FUGAZ



LIBERDADE FUGAZ



Corpo de donzela deitada no pensamento
Gazela nervosa de ar astuto
Corre ladeira abaixo
Numa vida sem norte
Olhos de vento
Que tudo levou na frente
Desejos que são fantasias
No dia de hoje
Talvez prazeres no dia de amanhã
Amoras selvagens nascidas no tempo
Sem rédeas na voz
Ondulação de gaivota
Que parte à descoberta
De novos horizontes na bruma
Onde os precipícios são demais…
Mas aviso à navegação
Cuidado com os precipícios
Que nem a lua os consegue mostrar
Numa liberdade fugaz
Onde os cânticos de glória
Podem calar-se depressa
E o lume dessa fogueira
Apagar-se com o gelo
Que vem quebrar o cristal
Como um copo sem whisky
Que te embriagou
Como se estivesses numa festa
Que acabou sem prazer
E em lama transformou
A carga emocional…lasciva
Que antes fora um mapa
Cor-de-rosa.



ARIEH  NATSAC

ASTROS SEM UNIVERSO



ASTROS SEM UNIVERSO


Abre-se a barraca do circo da vida
Há palhaços e trapezistas
Lambendo a terra queimada
Em busca do prazer
Que não sejam papoilas
Germinando no meio de trigo
Os astros esmoreceram
Obrigados por um Satanás sem tridente
Os artistas sem papel decorado
Foram levados pela corrente
De uma masmorra que dispara
O homem bala sem rede
Nesta península só os cigarros
Têm luz que acende e apaga
Os remorsos que preocupam os ossos
Que andam distraídos no Universo
Contam-se as fadas em contos
E os contos já não existem
Deixaram de ser ontem
Nas mãos de fingimentos sem perfume
Atira-se a toalha ao chão
E corre-se para uma urgência tardia
Onde a vida está presa por um fio
De uma espada pronta a descer
Sem pedir licença
Ao abrigo de um decreto-lei
Que ninguém leu nem ouviu
Mas o sangue assassinou
Atingido por uma bola de golfe
Que saiu dos prazeres da vida
Partindo o espelho em pedaços
E apagando de vez a luz do circo.




ARIEH  NATSAC

quarta-feira, 8 de maio de 2013

LIBERDADE SEM POISO



LIBERDADE SEM POISO



Lei do novelo
Que desata a corda do relógio
Dá horas na barriga da solidão
Obstáculo de cavalo com arções
Que desfilam em paralelos
De caminhos cruzados
Por palavras metafóricas
Sem dicionário da vida
Move-se a metralha do silêncio
País de terceiro mundo
Onde o general pilha
Na febre que estala
A pele dos oprimidos
Feitos papagaios de vento
Lançados na fogueira
Que arde como brinde
E dispara num espetáculo
Sem luz nem cor
Sobe a ladeira um camponês
Está falando com o nada
Vai comendo em sentido
No refugio da sua incontinência
Com o dedo no gatilho
Da esperança tardia e arrojada
Acompanhada da mãe miséria
Para cumprir o horário sem tempo
Até fazer juras de ferro velho.




ARIEH  NATSAC

terça-feira, 7 de maio de 2013

METADE DE MIM



METADE DE MIM….



Metade de ti é lua
Metade de mim actua
As más forças do diabo


Não sei de onde vieram
Nem como apareceram
De mim estão dando cabo


Eu sei aquilo que sou
Às vezes até controverso
Mas eu não o quero ser


Se neste caminho vou
Vou virado do avesso
Digam-me o que hei-de fazer.



ARIEH  NATSAC

DÁ VONTADE DE MORRER



DÁ VONTADE DE MORRER



Dá vontade de morrer
Ver fatalidades crescer
Neste mundo em convulsão
Subo até aos Pirenéus
P’ra ver a terra e os céus
E ver os pecados meus


Mas ao ver tudo isto
Meu Deus porque será?
Crianças com tanta fome
Numa guerra que as consome
Dá uma volta por cá


O mundo precisa de paz
Sozinho não é capaz
Tem que ser bem ensinado
Povos perderam o juízo
Não sabem o que é preciso
Neste mundo devastado.



ARIEH  NATSAC

ONDE PARAM OS DOENTES



ONDE PARAM OS DOENTES?


Ó meu Deus!...estou no inferno?
Mas se ainda não morri
Via um sofrimento eterno
Que se passava por aqui?
Agora não vejo ninguém
Eu penso…não estar cego
Será que já estou no além?
Não estou…isso eu nego
Onde estão os mais carentes
Os que precisam de ajuda
Será que não há doentes?
Ou foram levados p’la chuva
Tive que ir ao hospital
A uma consulta de urgência
Julguei estar a ver mal
Estava às moscas. Indecência
Não há dinheiro p’ra comer
P’ra saúde ainda menos
Verem pessoas a morrer
É uma coisa de somenos
Senhores que fazem leis
Vão fazendo muitas mais
Esperem e então vereis…
Vão fechar os hospitais
Assalariados dos coveiros
Vão enchendo os cemitérios
Eles deviam ser os primeiros
Não brincar com assuntos sérios
Digo isto! Estou revoltado
Pois sinto-me agonizar
Vejo este povo algemado
Por tiranos a sacar….


ARIEH  NATSAC

FADO SAMBA E SAMBA FADO



FADO SAMBA e SAMBA FADO



Meu irmão brasileiro
Aqui deste meu canteiro
Dou-te um fado bem gingão
Mas quero um samba mexido
Ousado muito atrevido
P’ra fazer nossa união


O samba tem o seu fado
Só que fica do outro lado
Muitas milhas mais além
E Pedro Alvares Cabral
Levou até lá Portugal
Co’o nosso fado também


No fado há nostalgia
No samba mais alegria
Tudo rimado a preceito
Se o fado é tão natural
Até mesmo o tropical
É tudo questão de peito


O samba tem mais calor
Muita luz muito vigor
Na alma da vossa gente
O fado tem mais amor
Saudade e algum rancor
São irmãos a gente sente.



ARIEH  NATSAC

NO ALTO DA BEIRA






NO ALTO DA BEIRA


Serra alta
Do alto da serra
Sobe e desce a Beira
Alta do alto do seu granito
Gélido e aquecido
Pela hospitaleira gente
Mas com a valentia
De um Viriato
Rei dos Hermínios

Neste contraste de emoções
Que se perdem no horizonte
Serrano, agreste e cortante
Como o vento que os agasalha
Mesmo no tempo mais frio

Rasga-se a terra do sustento
Com a força da natureza
Que lhe enruga a pele

E nas rugas do rosto
Há páginas de sabedoria
Que aprenderam na escola da vida
Tendo como companheiros
O latido de um cão
Ou o balido de um cordeiro
Acabado de nascer

Lá longe uivam os lobos
Que lhes ensinaram a esperteza
Num dia a dia bem rude

E quando acaba o mesmo
Chega a doçura do lar
Misturada com o aconchego
De um caldo quente
Ou de uma fatia de broa
Por vezes acompanhada
De um desejo

Do alto da serra
Nasce um rio de prosperidade
Que lhes vai afagando
A dor do seu granito.




ARIEH  NATSAC

CA MINHO



CÁ MINHO…


Jorram-me as palavras
Perante tamanha beleza
Não sei mais que realçar
Se os montes, rios ou a sua flora
Que eu contemplo

Páro extasiado
Como se estivesse no paraíso

Lá do alto vejo o belo
E agradeço à mãe natureza
Este presente

Agora sei porque os poetas
Aqui vêm beber tanta inspiração
Fazendo o seu refugio
E orando com os seus poemas
Como se fossem aguarelas
Com as suas cores preferidas

No inverno
O verde mistura com o cinzento
No verão
O mesmo verde mistura-se
Com os seus aromas e cantares
Onde a alegria
Das suas romarias e procissões
Mostram a fé das suas gentes
Que neste mistério embarca
E abarca
Desde Braga a Valença
Onde me perdi
Como ave que não sabe onde poisar

A sua presença mostra-a cantando
Num delírio canoro
Escrevendo o mais belo hino
De liberdade e gratidão
Ai como estou encantado
E sem querer perdi-me
Escrevendo este poema
Embebido nestas terras
E eu…cá Minho.


ARIEH  NATSAC

ALGARVE



ALGARVE


Partida em busca do desconhecido
De um ponto ocidental
Com a rota dos ventos
Num peito ardente
De alma lusitana

Marinheiros de um mar bravio
Que este povo bem conhece
E as suas areias
Aquecidas pelo sol
Que as beija com sofreguidão
E lhes dá vida à vida

O seu destino é o mar
Que num corridinho balança
Uma vida alegre e sadia

Passeia de costa a costa
Uma costa de riqueza
Com tamanha beleza
Que o mundo quer conhecer
Num turismo acastanhado

Pôr de sol hospitaleiro
Companheiro das horas vagas
Que suspira num entardecer

Entrada de uma noite
Cheia de folias
Até altas horas
Onde a lua reflecte
Uma silhueta
De gente ávida
De amor até ser dia.



ARIEH  NATSAC