domingo, 21 de dezembro de 2014

MAGOAS E AGONIAS



MAGOAS E AGONIAS


É tão difícil de ouvir
A raiva da voz do mar
Mais atroz é o sentir
Noites frias seu uivar


Lança ódio sem opinar
Destroça corações
Leva tudo pelo ar
Um crescendo de aflições


Cheias de coisas vazias
Destroços e mais destroços
São magoas, agonias
Prisões mil alvoroços


Nas mãos ficam as linhas
Que traçam a sua sina
De gente que adivinha
O medo que os não domina.


ARIEH  NATSAC



SE A RAZÃO É MAIS FORTE



SE A RAZÃO É MAIS FORTE


Vejo tão lindas coisas
Que me fazem tropeçar
São essas coisas e loisas
Na maré me vão levar


Na conversa de um canal
Terei boa esperança
Encostado a um coral
Que me leva em sua dança


São desejos sem medir
A força que há em mim
Vejo-me sempre a pedir
Que esteja longe o meu fim


Cumprimento com sorrisos
Toda a falsa qualidade
Neste deserto de risos
Que terminam na saudade


E se a razão é mais forte
Que venha por encomenda
Que eu já vi a minha morte
Travei com ela contenda


Foram dias tão sinistros
Que me esqueci de tudo
Das balelas dos ministros
Mascarados sem Entrudo


Talvez não deva pensar
No dia que não chegou
Continuo a carregar
O que a vida me deixou.



ARIEH  NATSAC                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             






TRISTE DEZEMBRO



TRISTE DEZEMBRO…


Ó Dezembro das tristezas
Ó Dezembro de alegrias
Há em ti as faustas mesas
Encobertas as pobrezas
Com Luxos, hipocrisias


Dezembro mês de Natal
Dezembro mês das crianças
Para mim é tal surreal
É dia tão igual
Apenas me traz lembranças


Dezembro levou meu pai
Se assinalou logo o mês
Esse mês já longe vai
Minha voz não o calai
Nesta dor que agora lês


 Verei à outra margem?
Já faltam tão poucos dias
Tão agreste é aragem
Continua a miragem
Onde penduro agonias.


ARIEH  NATSAC



OS PILOTOS DE AVENTURAS



OS PILOTOS DE AVENTURAS


Quando a tarde me aparece
É um barco que vem só
Aparece como uma prece
Que me alimenta e aquece
E me lembra sem ter nó


É paragem feito cais
Recado que vem trazer
Não importa se tem ais
Ou traz pecados mortais
Que me fazem reviver


Prendo tudo com amarras
Num fio que é mensageiro
Já não me importam as farras
Mulheres que não têm parras
Que vinham só por dinheiro


Os pilotos de aventuras
Aportavam, porto chão
Venturas e desventuras
Vigias sem amarguras
Retalhos de ocasião.



ARIEH  NATSAC

DOCE É...



DOCE É…


Doce é ver o sol nascer
Sentir uma porta abrir
Ver nosso amor renascer
Lençóis de bem-querer
E ver teu corpo florir


Doce é ver a madrugada
Onde tudo principia
É hora bem temperada
Como tarde assolarada
Onde a noite se anuncia


Doce é ter um gesto teu
Onde o amor já demora
Entrega que aconteceu
Onde o fogo renasceu
E sentir que não tem hora


É doce deveras doce
Como o mel da colmeia
É princípio que trouxe
Teu corpo tão agridoce
Que me prende nessa teia.



ARIEH  NATSAC



RELENTOS SEM AVENTURAS



RELENTOS SEM AVENTURAS


A vontade não esmoreça
Meu amigo cantarei
Uma canção que te peça
E a mim nunca me impeça
Naquilo que me embrenhei


À que lutar com apego
Na escola, rua ao luar
O meu lutar eu não nego
Com a cruz que eu carrego
Vou em frente…toca a andar


Por tudo que mais existe
Do sorriso, na palavra
Nunca um homem esteja triste
Erguendo seu punho em riste
Seu sentir ninguém o trava


Que não adormeçam os rios
Onde bebe gente impura
No fundo dos desafios
Germinam noutros baldios
Relentos sem aventuras.


ARIEH  NATSAC

É TENSA A MINHA VOZ



É TENSA A MINHA VOZ


É tensa a minha voz
Que me amargura o peito
Que se abre e dá a vós
É um sinal tão veloz
Num eco sem ter defeito


Falo aqui falo acolá
Mais pareço uma fragata
Que anda ao Deus dará
Logo se despenhará
Na vida como cascata


É tensa a minha voz
Na solidão que é intensa
Seu falar é tão feroz
Seja antes ou após
De um grito minha presença


Cada palavra que atiro
É uma pedra de calçada
Que suporta o meu suspiro
Alvorada qual um tiro
Acordar da madrugada


E se o dia se insinua
Como o luar de Agosto
Sinto-me preso na rua
Como a ave que flutua
Na manhã beija-me o rosto


Vibra o mar da minha terra
A minha voz não se apaga
É palavra que navega
Perde-se para lá da serra
Com minha voz se embriaga.



ARIEH  NATSAC

É UM CORPO DE PENUMBRA



É UM CORPO DE PENUMBRA


Entre a chuva miudinha
Se constrói um atoleiro
Tão depressa se avizinha
Nasce um saco sem bainha
De flores sem ter o cheiro


Sem espasmos de alegria
Há quem vigie de perto
Num horizonte sem dia
Tem por vicio a agonia
De viajar no deserto


É um corpo de penumbra
Que vive ao Deus dará
Nem o luar o deslumbra
Prefere viver na sombra
Que por dentro lá está


É um mistério bastante
Que vive de voz calada
É um cavalo possante
De galope inconstante
Não conhece a madrugada


Numa raiva dura e mansa
Mal possuído e amado
Nem sequer chega a criança
Pois toda a sua esperança
É palavra enjeitada.



ARIEH  NATSAC

EM ABRIL É PRIMAVERA



EM ABRIL É PRIMAVERA


Em Abril é primavera
Jorram águas p’los montes
É espera noutra espera
Valha-nos Deus quem me dera
Ver uns novos horizontes


Quem cava a terra com as mãos
Vai abaixo, vem acima
Tem na ideia um irmão
Que nem sempre tem razão
Semente que não germina


É como flor tão bravia
Que no agreste se entrega
Gestação fraca e sombria
Que seu caminho arrepia
Ousado e muito brega


Contra o tempo é resistente
Suporta uma mascarilha
Leva tudo no batente
Rasteja como serpente
Vai num barco sem ter quilha


Sempre tão bem perfilado
É um homem indefeso
Vai sentir-se apavorado
Quando cair para o lado
Numa teia fica preso


Nunca se dá por vencido
Faz lembrar um gajeiro
Passa ao largo sem sentido
Mesmo sendo preterido
Julga-se ser o primeiro.


ARIEH  NATSAC

CRITICA ESVENTRADA



CRITICA ESVENTRADA


Sem ter chicote na mão
Há quem faça muita troça
Ao canto da escuridão
Vai lançando a confusão
Levando na vida a carroça


Sem guizos nem cabeçadas
Embora as dêem na vida
Vai em rimas destroçadas
Com janelas escancaradas
Na procura de guarida


E numa guerra de versos
Alguns de luva branca
Podem tornar-se adversos
Porque os temas são diversos
Ferozes como uma tranca


Mas a palavra fiada
Pode dar cor à justiça
Como navalha afiada
É critica esventrada
Que rola sem ter preguiça


E numa bendita canção
De escarneo ou maldizer
Vai lançando a confusão
E quem paga é a nação
Sem se poder defender


Mas fica p’ra história
Num parto bem dolorido
Sem saber se a vitória
Ficará na memória
Neste tempo que está vivo.



ARIEH  NATSAC

AS PORTAS DO SILÊNCIO



AS PORTAS DO SILÊNCIO


As portas do silêncio
Fecham-se na madrugada
Onde não cheira a incenso
Esvoaça como um lenço
Na hora duma largada


Há cantos adormecidos
Onde só se ouve um cão
Entre gritos e latidos
Perdem-se os sentidos
Que ferem o coração


Batem dentes castanholas
Imagens tão desfocadas
Passam na rua estarolas
Têm nas mãos as esmolas
Com luvas esburacadas


Correm as ruas do vento
Comem a sopa da míngua
Vestem-se com o sofrimento
São os amigos do tempo
Com o tempo dão à língua


Numa doutrina cinzenta
Suspiros de solidão
Não têm água benta
É a brisa que os alenta
Quando consigo estão


O granizo é uma bala
Que lhes fere a carne nua
Batem ao luar uma pala
Que também com eles fala
Numa linguagem tão crua.


ARIEH  NATSAC


SOU SOLDADO 10 MILHÕES



SOU SOLDADO 10 MILHÕES…


Numa rua tão esguia
Lamurias não aguento
A saudade nua e fria
Que me serve como guia
Mas na vida me oriento


São meus olhos companhia
Pego em armas destemido
Faço das sombras meu dia
Onde passa a nostalgia
Dum soldado aguerrido


Sou soldado 10 milhões
De um país que anda fora
Aguenta as maldições
Dum turismo de pregões
Da tropa que nos devora



Na guerra eu vou entrar
Para matar o desespero
Angustia a comandar
E sempre sempre a marchar
Acabar com ele eu quero.







ARIEH  NATSAC