domingo, 30 de setembro de 2012

SOMOS PETINGA SEM ROSTO

 


SOMOS PETINGA SEM GOSTO




À beira-mar conturbado
Andamos em convulsões
Somos farnel devorado
Neste país amargurado
Deste mar de tubarões


Somos petinga sem gosto
Andamos sempre à rabia
Mesmo com grande desgosto
Quando nos marcam o rosto
Com tempestades de azia


Sob castelos de nuvens
Envolto em mar revoltoso
Olhamo-nos com desdém
Implorando nossos améns
Num clima bem manhoso.




ARIEH  NATSAC

PELE

 


PELE….



Corpos cobertos de pele
Uns ásperos outros macios
Por vezes sabem a mel
Fazendo da vida rapel
Sinuosos como rios


Na pelica duma hora
Fina…pele de batata
Almoça-se sem demora
E toda a gente a devora
Até que a pele se abata


Uma pele que é bem curtida
Junto a um corpete de lã
Também ela é bem parida
Até mesmo consumida
Numa gola de astracã


A pele nos acompanha
Cobre até esqueletos
Com uma dor tamanha
Na nossa mente se entranha
Que nos deixa inquietos


A pele também tem dores
Em origens bem diferentes
Não importa suas cores
Também sofrem por amores
Mesmo sendo padecentes


E se a vida é uma peleja
Até à hora da morte
A pele bem se corteja
A pele cresce e sobeja
Lamentando a sua sorte.



ARIEH  NATSAC

QUE FIARADA



QUE FIARADA….


Estou preso por um fio

Mas meu tempo desafio

P’ra nele me desafiar

Sempre que for desafiado

Não vou ficar desatinado

P’ra me poder controlar


Com um fio de telefone

Não preciso megafone

Nem quero ser desconfiado

Há tanto fio num tear

Para se fiar até fartar

Se o fio não for macerado


E numa conversa fiada

De palavra enrolada

Sempre com fio bem cortante

Jorra fio de água corrente

Rega o fio na vertente

E dá-se fio por amante.


ARIEH  NATSAC

LISBOA É UM JARDIM

 


LISBOA É UM JARDIM



Passo em becos e vielas

Tenho cravo nas janelas

Manjericos ao luar

Sardinheiras bem formosas

Também tem botões de rosa

Perfume de cada lar



Lisboa é o meu jardim

Cheira a goivos e jasmim

Num canteiro sobre o mar

Um encanto a gente vê-la

Num abraço recebê-la

Como noiva no altar



Sempre muito radiante

Atira sorrisos de amante

Em pétalas orvalhadas

Cheira a sol e maresia

Ramalhete de alegria

Pelas ruas espalhadas.




ARIEH  NATSAC

domingo, 23 de setembro de 2012

BACALHAU PARA TODOS OS GOSTOS




BACALHAU PARA TODOS OS GOSTOS…



Quando me cruzo contigo
Mesmo com cara de mau
Pois se fores meu amigo
Dou-te um grande bacalhau


Sem ser com caras do mesmo
Ou de línguas afiadas
Comem-se petiscos a esmo
Numas boas patuscadas


Pataniscas com feijão
Ou mesmo sendo albardado
Faz-se sempre um figurão
Com este fiel afamado


Há quem vá na caldeirada
E também no fragateira
Sempre bem condimentada
Ou também à lagareira


Com umas batatas a murro
Cozido e bem regado
Mesmo que sejas casmurro
Ele é sempre bom aliado


Faz-se de mil maneiras
Por isso Maria aprovêta
Sem teres grandes canseiras
Faz-me uma boa pun…
                                                   (porção de coisas).


ARIEH  NATSAC

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

TEUS OLHOS SÃO ANDORINHAS

 


TEUS OLHOS SÃO ANDORINHAS




Teus olhos são andorinhas

Que nos meus vêem poisar

Dizem coisas bem certinhas

Com muito poucas letrinhas

Que eu sei descodificar



Andam sempre em rodopio

Dão-me voltas à cabeça

Se a inspiração me fugiu

Eu procuro ser o rio

Que p’ra ti corre depressa



Fazes ninho nos meus braços

Com desejo e emoção

Aqueço-te com abraços

Mesmo nos dias madraços

Quero sentir teu coração.



ARIEH  NATSAC

sábado, 15 de setembro de 2012

MINHA CRUZ




MINHA CRUZ


Dizem que sou criativo
Até um pouco humorista
Não posso estar inactivo
No meio desta salada mista


Tenho uma vida difícil
Contorno os obstáculos
De uma maneira hábil
Mas preso em seus tentáculos


Os dias são bem cruéis
Bem negros cor de carvão
Pinceladas sem pincéis
Que me ofuscam a razão


Mesmo assim faço rima
Consoante o seu tamanho
A vida também me ensina
A ver a força que tenho


Aqui pregado na cruz
Suportando este calvário
Pareço frade sem capuz
Co’as contas do rosário


Mas que mal fiz eu a Deus
Não merecia esta sorte
Vou implorando aos céus
Mas nunca peço a morte.



ARIEH  NATSAC

HÁ CÃES E CÃES


 


HÁ CÃES E CÃES


Hoje tive um dia de cão
Armei-me em cão com pulgas
Não foi aquilo que julgas
Pois estava num dia não


Parecia cão de guarda
Quis resolver a questão
Mas se estava em dia não
Logo me veio a mostarda


Ao ver tanto cão vadio
A gozar sem fazer nada
Não bati em retirada
Pois dali ninguém fugiu


Apareceu um cão de água
Com cabelo às três pancadas
Co’ umas meninas mimadas
Metiam dó tanta magoa


A comer grande cachorro
Acabara de ferrar o cão
E sem ter arma com cão
Aos saltos parecia Zorro


Grande cão gritou alguém
Vai-te já daqui embora
Não nos ponhas mais à nora
Deixa as saiinhas da mãe


Este grande cão de fila
Que às vezes ferra o dente
De uma maneira diferente
Só muita raiva destila.


ARIEH  NATSAC

OS COPOS

 


OS COPOS


Se chega o fim-de-semana

Logo uma sensação emana

Vamos todos para os copos

É vê-los em desvario

Esteja calor ou com frio

Actuam como uns loucos


Os copos são bem diversos

Alegram os nossos versos

Os de cristais ou cachaça

Depende da ocasião

E depois de um bom pifão

Os copos perdem a graça


Há também copos de espada

Que não implicam na estrada

Pois até servem o desporto

São uns copos silenciosos

Em espadachins famosos

Mas que te podem pôr morto.



ARIEH  NATSAC

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O BILHETE



O BILHETE…



Não há identidade sem bilhete

Não há mesquita sem minarete

Não há passeio sem o tirar

E sem bilhete não podes passar

Levas um bilhete…se desatinas

Com falta dele não entras no nimas

Com ele também pagas a portagem

No miradoiro p’ra veres a paisagem

Se vais ao museu vão te pedir

Se o não tiveres não podes mentir

Se fores de viagem até fica mal

Não comprares um bilhete-postal

Tens pouca sorte andas azarado

Compra um bilhete mas premiado

Manda-se um bilhete bem perfumado

Num ramo de rosas bem arranjado

Estes meus versos não são barrete

Se não gostares não me passes bilhete.


ARIEH  NATSAC

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

AS NOTAS

coleçao de notas alemas antigas nº2 em Santarém

AS NOTAS…



Lembro as primeiras que tive

Tive-as na minha escola

Ao vê-las não me contive

A respiração sustive

Por ter sido tão mariola



Ia tomando as minhas notas

Mas sempre bem desleixado

Arranjei um par de botas

Co’as minhas notas bem tortas

Agora estou bem tramado



Faltam notas na carteira

Por não ter ido mais além

Diverti-me a vida inteira

Só asneira…tanta asneira

Razão tinha minha mãe



Passei a vida a dar musica

Sem ter notas musicais

Era tal minha genica

Que ao tempo ela bem fica

Mas as notas…são fatais.




ARIEH  NATSAC

AS CONTAS


AS CONTAS…


Ensinaram-me a fazer contas

Para deitar as contas à vida

Resolver problemas de montas

Abafar as minhas afrontas

Nesta minha pátria querida


Trago as contas do meu rosário

Na mão p’ra me penitenciar

Poder subir ruim calvário

Esquecer o meu fadário

Que me arrasta no meu penar


Abro as contas num certo banco

Penso que vou viver melhor

E nesse mundo que é tão franco

Eu fico cada vez mais manco

E estou cada vez pior


Mas tenho que prestar contas

Para dar contas do recado

Com tantos bichos de contas

Que parecem baratas tontas

Mas co’as contas sou bem levado


Vou tomar conta da pobreza

Numa conta aberta sem par

E dessa conta ter a certeza

Vou saldar contas da vileza

Fazendo contas de somar.



ARIEH  NATSAC