sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

NATAL QUE JÁ NÃO É...



SONETO DE NATAL


Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

MACHADO DE ASSIS


NATAL QUE JÁ NÃO É…

Quis transportar ao verso doce e ameno
O contexto que a quadra no mês tem
Deus menino nasceu lá em Belém
Num estábulo humilde e tão pequeno

As sensações da sua idade antiga
Ainda hoje ao tempo cá perduram
E as leis dos homens nunca se aventuram
A mudá-las por mais que alguém o diga

Naquela mesma velha noite amiga
Tanta luz, amor, lágrima vertida
Pois tudo nela teve somente paz

                          Noite cristã (do) berço Nazareno
Pensou-se: vai ser tudo mais sereno
Disso o homem não foi sequer capaz.


ARIEH  NATSAC

PODRIDÃO HUMANA



Importa não ser parvo não ser tolo
O que se vê por fora é letra morta
Do fruto o que mais vale é o miolo
A casca vai p’ro lixo não importa.

ANTÓNIO ALEIXO


PODRIDÃO HUMANA


Importa não ser parvo não ser tolo
Embora o queiram ver passar por isso
Mesmo quem desse apodo está omisso
Há sempre quem o tome por parolo

O que se vê por fora é letra morta
Como conteúdo agora é só fachada
Tendo hipocrisia de aliada
Que nos bons costumes tudo corta

Do fruto o que mais vale é o miolo
Só puro está isento de algum dolo
Mas tudo nesta vida está bichado

A casca vai p’ro lixo não importa
Haverá sempre alguém que lá aporta
Na podridão: lá segue o condenado.


ARIEH  NATSAC





segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

POMBA MANSA



DO POEMA EU E ELA


Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.

CESÁRIO VERDE


POMBA MANSA


Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Voaste para longe e eu tão perto
Parecendo querer um céu aberto
No rodopio constante de outra dança


Sobre um banco de mármore assentados.
Outrora como tudo era melhor
Ao ver-te voar vinhas recompor
Um quadro de dois seres enlevados

Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Dissemos frases soltas – inspirados –
Que o tempo era de amor e de folguedo

Beijarão meigamente a tua trança
Outros arbustos – serão vizinhança –
E jamais contarás nosso segredo.


ARIEH  NATSAC


FALO DE TI ÀS PEDRAS



DO POEMA FALO DE TI ÀS PEDRAS DA ESTRADA  


Falo de ti às pedras das estradas,
E ao sol que é louro como o teu olhar,
Falo ao rio, que desdobra a faiscar,
Vestidos de princesas e de fadas;

FLORBELA ESPANCA


FALO DE TI ÀS PEDRAS


Falo de ti às pedras das estradas,
Só por não encontrar mais companhia
E mesmo quando a lua me alumia
Então cativo vejo: estão usadas

E ao sol que é louro como o teu olhar,
Pergunto por ti ávido e atento
Porque só tu me dás aquele alento
Porém já não sei onde te encontrar

Falo ao rio, que desdobra a faiscar,
Seja aquele farol do meu penar
E ilumine os caminhos com quem falo

Vestidos de princesas e de fadas
Mesmo gastos terão minhas peugadas
Porque esse chão secreto vou amá-lo.


ARIEH  NATSAC


domingo, 13 de dezembro de 2015

SOL SEM CALOR



Aquele Claro Sol

Aquele claro sol, que me mostrava
o caminho do céu mais chão, mais certo,
e com seu novo raio, ao longe, e ao perto,
toda a sombra mortal m'afugentava,

ANTÓNIO FERREIRA

SOL SEM CALOR

Aquele claro sol, que me mostrava
Caminho da verdade tão perfeito
Aonde o prazer dá sempre jeito
Mesmo quando o desejo o molestava

O caminho do céu mais chão, mais certo,
Pisado com cuidado e sem fugir
Do desespero, à morte e não cair
No infortúnio que já corre liberto

E com seu novo raio, ao longe, e ao perto,
Abrirá as fronteiras do deserto
A pobres com espírito torturado

Toda a sombra mortal m'afugentava,
E quando lindo dia clareava
Já me ia seguindo o triste fado.


ARIEH  NATSAC


CONFIANÇA



Aquela confiança de maneira
Que encheu de fogo aqueles olhos de água
Porque eu ledo passei por tanta mágoa
Culpa primeira minha e derradeira

SÁ DE MIRANDA


CONFIANÇA


Aquela confiança de maneira
Que te dei naquela vez porém contida
Não sei se foi certeza ou foi fingida
Tentação que me fez cair na asneira

Que encheu de fogo aqueles olhos de água
Contemplando no escuro é como fico
Nessa dor nem de voz sequer dedico
Desamor, compaixão apenas trago-a

Porque eu ledo passei por tanta mágoa
E nem ao ver os teus olhos com água
Irei sentir ao certo o que mudou

Culpa primeira minha e derradeira
Ao tapar os meus com uma peneira
Mas crê que a confiança terminou.



ARIEH  NATSAC




INVENÇÃO



DO SONETO MAL AMAR


Invento-te    recordo-te   distorço
a tua imagem mal e bem amada
sou apenas a forja em que me forço
a fazer das palavras tudo ou nada.

ARY DOS SANTOS


INVENÇÃO


Invento-te    recordo-te   distorço
E far-te-ei à minha semelhança
Com todo o pundonor e confiança
Assim marcada à prova do meu esforço

A tua imagem mal e bem amada
Será sempre aquela que aprouver
Mesmo que venha lá quem o disser
Que a fundura da alma é mal formada

Sou apenas a forja em que me forço
A força do metal e não me torço
Pelas tão duras criticas que fazes

Sendo mesmo inventada como quero
Do meu calor nasceu o teu tempero
Onde as minhas façanhas são audazes.


ARIEH  NATSAC


ELMANO



Elmano, de teus mimos anelante,
Elmano em te admirar, meu bem, não erra;
Incomparáveis dons tua alma encerra,
Ornam mil perfeições o teu semblante:
 
BOCAGE



ELMANO

Elmano, de teus mimos anelante,
Elmano também sou como tu és
Mas a escrever não chego aos teus pés
Nem na vida rebelde e como amante

Elmano em te admirar, meu bem, não erra;
Hoje posso ver como eras bom poeta
Amavas tua pátria predileta
Mas calavam-te a boca nesta terra
 
Incomparáveis dons tua alma encerra,
Tua voracidade também ferra
Nessas linguagens poéticas e ardentes
 
Ornam mil perfeições o teu semblante:
Nada condizendo co’o errante
E são tuas tiradas condizentes.
 
 
ARIEH  NATSAC
 
 

sábado, 12 de dezembro de 2015

PERFUME AGRI DOCE



Adornou o meu quarto a flor do cardo,
Perfumei-o de almíscar recendente;
Vesti-me com a púrpura fulgente,
Ensaiando meus cantos, como um bardo;

GUERRA JUNQUEIRO


PERFUME AGRI DOCE


Adornou o meu quarto a flor do cardo
Cheia de picos em horas desfeitas
Onde escuto as sentidas das maleitas
Desalento chorado onde me guardo

Perfumei-o de almíscar recendente
Para perfumar tão talhada cena
Pô-la a parte soltar rude dilema
E tornar meu semblante transparente

Vesti-me com a púrpura fulgente
Levando outro espírito decente
Em vez deste negrume tão azedo

Ensaiando meus cantos como um bardo
Onde tanto lirismo só resguardo
Cantado ao meu ouvido num segredo.


ARIEH  NATSAC



VAIDADE



Vaidade, meu amor, tudo vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguém,
Tuas amigas ter-te-ão amizade,
(Se isso é amizade) mais do que, hoje, têm.

ANTÓNIO NOBRE



VAIDADE

Vaidade, meu amor, tudo vaidade!
Vaidade para mim é um desnorte
Assim meu pensamento até à morte
Digo com a maior sinceridade

Ouve: quando eu, um dia, for alguém
Mais do que agora já me considero
Não desejo ser mais do que espero
Para estar bem contigo sem desdém

Tuas amigas ter-te-ão amizade
Por vaidade ou também leviandade
Porque o resto do nada não importa

– Se isso é amizade – mais do que hoje tem
Muita falta de chá na casa mãe
Porque assim sendo, amor, é coisa morta.


ARIEH  NATSAC


OUSADIAS



Vejo que são bem como *arteira dama,
Que sob honesto riso esconde o engano,
E o que as segue, como homem leviano
Que por um vão prazer deixa quem ama

ANTERO DE QUENTAL
*ARTEIRA – Astuta


OUSADIAS



Vejo que são bem como arteira dama,
Despem-se sempre prontas sem ter hora
Já ontem era tarde essa demora
Esperando em desfeita e doce cama

Que sob honesto riso esconde o engano
Impregnam-se de odores seu convites
Adensam-se no íntimo apetites
Evocados nas leis do mais profano

E o que as segue, como homem leviano
Vai navegando veloz a todo o pano
Na alvura de um corpo bem ousado

Que por um vão prazer deixa quem ama
Sem saber quem procura e bem chama
E se deita num leito amordaçado,


ARIEH  NATSAC

ERROS PASSADOS



Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

VINICIUS DE MORAIS


ERROS PASSADOS



Enfim, depois de tanto erro passado
Eis que vai surgir tempo radioso
Na senda do mistério ardiloso
Retalhos de um desejo desvendado

Tantas retaliações, tanto perigo
Correram no destino ao desbarato
Quebraram tanto copo tanto prato
E agora remove-los não consigo

Eis que ressurge noutro velho amigo
Conselho verdadeiro que já sigo
Antes ouvido - não quisera ter

Nunca perdido, sempre reencontrado
Do bem querer somente agonizado
Pois cego andava sem nada absorver.


ARIEH  NATSAC




quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

EXTERIORIZO



EXTERIORIZO…

Ó coração fiel: que bates forte
Pretendes só quem não te satisfaz
Assim nunca terás aquela paz
Andas desvairado sem ter norte


Mulher doce e gentil não quer a corte
Mostra-lhe o sentir de que és capaz
Abrindo-lhe o teu âmago e desfaz
As duvidas que fazem teu desnorte


Esse alguém se completa já faz tempo
Desviá-la seria um contratempo
Por isso vou arfando sem ter dó


Porque a vida é madrasta sem respeito
E as f’ridas que já sangram no meu peito
Serão as cicatrizes de homem só.


ARIEH  NATSAC



VEJO-ME SOZINHO



VEJO-ME SOZINHO

Vejo-me sozinho e pensativo
Só as sombras me vêm à memória
Apenas o frio inverno me faz companhia
Sinto toda esta agonia
Que faz parte da minha história
Que me tolda os pensamentos
Foram momentos passados que houveram
Em que a alegria foi constante
Agora fico bem distante.
Apenas o presépio que montei
Me faz lembrar o Natal
Mas esse está quedo e mudo
Como se isso fosse normal
Não é suficiente para me alegrar
Noutros lares bem perto há alegria
Há famílias a confraternizar
Só eu não tenho ninguém
Culpa a minha?
Ou foi a sina que me estava traçada
Talvez eu seja um rei mago
Que se perdeu no caminho
Por isso caminho sozinho
Olhando a estrela mãe
Pendurada numa foto de família
Juntamente com o pai, que era um santo
O menino Jesus que já fui
Tornou-se a ovelha tresmalhada
Deste imenso rebanho
Agora apenas tenho aquilo que não tenho
Olhando para todo o lado
Sinto que todo este desespero
É a cruz do meu pecado.




ARIEH  NATSAC