domingo, 5 de maio de 2013

ALEM TEJO



ALÉM TEJO…


Passo para lá da minha cidade
Abraçando um rio em despedida
Rumo ao sul em calmaria
E flutuo num mar de espigas
Mesclado de papoilas
Que bailam
Como barquinhos coloridos
Transportando o pão
Que o vento levedou
E a calma o ferventou
Homens e mulheres se escondem
Entre os frascais
Ou em mondas de cantigas
Que mais parecem um hino
De louvor que só eles conhecem
Saindo das suas gargantas
Numa musicalidade
Uma prece
Pedindo à mãe natureza
Que lhes dê umas migas
Para um sustento que dói
Chagas de jornas
Vestimenta de chaparros
Usadas durante nove anos
Para se voltarem a despir
E despedir
Daqueles montes
Onde pastoreiam
Os suínos com as marrãs
Comendo os seus frutos.
Naqueles feudos
Eles se entregam
À sua terra
Numa refrega de solidão
Bramindo archotes de tojo
Que nem o charoco
Mais agreste os molesta
Nem os castiga
E só lhes mostram o amor
À terra que é só sua
E a abraçam
Como um filho abraça o pai
A quem tanto quer
Apesar do seu sofrer
Ai Alentejo de negro vestido
Camisa de sofrimento
Onde pulsa um coração sangrando
E num chapéu guardas a sabedoria
Mesmo que pachorrenta
Mas onde manténs
A astúcia de um Geraldo
Sem teres pavor…


ARIEH  NATSAC

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