quarta-feira, 28 de março de 2012

BALADA DO MOINHO VELHO.

BALADA DO MOINHO DE VENTO…



Aquele moinho de vento
Deixou de moer a farinha
Suas velas são um lamento
Que junto às saudades minhas


Para lá queria ia brincar
Ver suas velas bem ligeiras
Ao vento sempre a rodar
Moendo o trigo das eiras


Quantas saudades eu tenho
Do trigo pisado bem moído
Produto daquele amanho
Que em magia pão foi parido.



ARIEH  NATSAC

EU QUERIA...

EU QUERIA…


Eu queria
Sempre sorrir
Poder fugir
Deste tormento


Qu’assola
A minha vida
Sem ter guarida
É um sofrimento


São elas
As minhas dores
Os meus temores
Que me consomem


Eu já
Me sinto cansado
Desmotivado
Nos dias que se somem….


ARIEH  NATSAC

terça-feira, 27 de março de 2012

LISBOA POETA


LISBOA POETA



Lisboa tem na voz um fado
Qu’ escreveu numa esquina
Inspirada pela lua
Feita menina traquina


Rimou luta com Castelo
Mouraria com festejo
Rimou também com a dor
E saudade com desejo.


Foi uma letra de canção
Que um fadista cantou
E seu nome enlevou
Na força da tradição


É mulher sentimental
Poeta nas horas vagas
Por mais versos que nos traga
Sua rima é imortal.


ARIEH  NATSAC

PASSOS DOLOROSOS

PASSOS DOLOROSOS



Passos que ouvimos passar
No nosso escuro caminho
São passos que vão pisar
Quem no escuro vai sozinho



Gritamos quando pisados
Não nos podemos levantar
Andamos tão desvairados
Com passos sempre a pisar



ARIEH  NATSAC

ÉS MEU POEMA

ÉS MEU POEMA…
(Fi-lo com a música do fado Samaritana)


Escrevi um poema para ti
Com a lua a acompanhar
Não sei aquilo que senti
Meu coração ficou a sangrar


Sangrou lá bem no fundo
De saudades isso não nego
Pois meu amor é tão profundo
Qu’ eu de amores dev’ andar cego


És meu poema em noite de luar
O que eu escrevi vou-te depois cantar
Cantá-lo ao vento para ele o levar
O meu tormento nunca mais irá parar


Eu sei que tu me queres
Como queres a uma flor
E tudo quanto disseres
Di-lo-ás com muit’amor


Amor que tanto desejo
Que esse teu rosto irradia
Os meus poemas são beijos
Hei-de dá-los. Amor qualquer dia.


sexta-feira, 23 de março de 2012

O FADO NÃO TEM BARREIRAS

O FADO NÃO TEM BARREIRAS…


Foi numa feira de gado
Que eu ouvi cantar o fado
A um fadista de raça

Um fadista marialva
Batendo todos à palma
Com certo jeito e tal graça

E pela noite fora
Até ao romper da aurora
O fado foi cantado

Entre o cheiro a vinhaça
E o expirar duma fumaça
Que me punha embriagado

Era um fado bem brigão
Regado com carrascão
Fazendo chorar a guitarra

Falava de toiros campinos
Dos seus comuns destinos
Que à lezíria os amarra

O fado para ser sentido
Tem de ser cantado e vivido
Bem no seu ambiente

Cantar o fado é condão
É ter garra e inspiração
Que vem da alma da gente

Nessa feira em Santarém
Cantou-se o fado tão bem
Com orgulho e altivez

O fado não tem barreiras
Conserva as suas maneiras
No calão bem Português.



ARIEH  NATSAC

EM TRÁS OS MONTES

EM TRÁS-OS-MONTES


Por detrás dos montes
Se esconde o silêncio
Entre mantos de oiro
Curtidos pelo agreste
Onde mora a esperança
Que os abafa em mosto
Nesta terra fria
Que gela os contrafortes da alma
Dos que erram entre rios de agonia
E desaguam em caminhos sem ter rosto.
Por eles os filhos gemem
Levantando as pesadas botas
Que os amarra à terra
Enquanto não é dia
Carregando os mistérios
Que da terra brotam
E a mãe natureza lhes vai ensinando
A urdirem o futuro
Com as linhas do presente
Em teares feitos de nada
Numa pureza amarga e doce.
O sol bravio
Aos poucos os vai queimando
E regando com o suor
Como se um cavaco fosse.
Torcido, ressequido e gemendo
Rasga a charrua o filão
E a enxada cobre de terra
A semente
Que castigada, fustigada
Rompe da terra rumo ao céu
Ao sabor do vento
Num hino de amor e liberdade
Mesclado de flores de amendoeira
Que enfeitam um terço de pedras
Com que reza à natureza perdida
E acolhe saltimbancos
Que passam no silêncio a fronteira.
Por de trás dos monte
Ai como o descanso é duro
Pesado como a canga da mentira
Benzida por crepúsculos sombrios
Que escondem a verdade
Dum dia a dia cada vez mais escuro
Malhado nas bigornas
Onde se cravam as ferraduras
Da mula da vida
Que tantos coices nos dá
E nos enrola como molhos.
Mas não se abrem os olhos
Dos que apenas sabem a linguagem do gado
Ou fazem musica com a flauta de pã
E aprendem a destreza das aves de rapina
Que se empoleiram nos cornos do destino
Que cheira a vinho, azeite e amêndoa
E tem sabor a figo e a noz.
Amo-vos meus irmãos. Amo-vos
Mesmo olhando os montes
Por de Trás-os-montes
Onde se esconde o amarelo da fome
O verde da esperança
E o azul de cada dia que nasce
Quando a noite se despede de vos
Amo-vos meus vigilantes
Que quando morrem
É sempre como homens
De pé.



ARIEH NATSAC
                                                          

ALÉM TEJO...


ALÉM TEJO…


Passo para lá da minha cidade
Abraçando um rio em despedida
Rumo ao sul em calmaria
E flutuo num mar de espigas
Mesclado de papoilas
Que bailam
Como barquinhos coloridos
Transportando o pão
Que o vento levedou
E a calma o ferventou
Homens e mulheres se escondem
Entre os frascais
Ou em mondas de cantigas
Que mais parecem um hino
De louvor que só eles conhecem
Saindo das suas gargantas
Numa musicalidade
Uma prece
Pedindo à mãe natureza
Que lhes dê umas migas
Para um sustento que dói
Chagas de jornas
Vestimenta de chaparros
Usadas durante nove anos
Para se voltarem a despir
E despedir
Daqueles montes
Onde pastoreiam
Os suínos com as marrãs
Comendo os seus frutos.
Naqueles feudos
Eles se entregam
À sua terra
Numa refrega de solidão
Bramindo archotes de tojo
Que nem o charoco
Mais agreste os molesta
Nem os castiga
E só lhes mostram o amor
À terra que é só sua
E a abraçam
Como um filho abraça o pai
A quem tanto quer
Apesar do seu sofrer
Ai Alentejo de negro vestido
Camisa de sofrimento
Onde pulsa um coração sangrando
E num chapéu guardas a sabedoria
Mesmo que pachorrenta
Mas onde manténs
A astúcia de um Geraldo
Sem teres pavor…


RAPAZINHOS COMO ESTE NÃO....


RAPAZINHOS COMO ESTE NÃO…


Foi em 6 de Agosto de 1946
Que nasceu um rapazinho
Que o mundo iria destroçar
Abafando de tristeza cada lar
Com suspiros e choros sem cessar
Este rapazinho foi por todos amaldiçoado
Parecia ter sido obra do diabo
Que o gerou apenas para destroçar
Sim. Este rapazinho foi diferente
As pessoas de alegria não choraram
Das mães ventres abortaram
As aves nos seus ramos não cantaram
As casas com o choro se desmoronaram
Os dias em noites se transformaram
As estrelas no céu não cintilaram
As águas dos oceanos se revoltaram
Ondas em montanhas se tornaram
As pessoas suas faces mascararam
Com a mascara da dor que não quiseram
Maldita a hora em que nasceu tal criatura
Que lançou milhares na sepultura
Que a doença e a morte propagou
E o mundo inteiro aterrorizou
Calem-se vozes imundas
Que profanam com raivas profundas
Como se fossem lavas de vulcão
Que ódios lançaram em gases de podridão
Morte aos úteros geradores de tais rapazinhos
Feitos em silêncio como anjinhos
Abafem-se o eco dos revoltosos
Perdidos como cancerosos
Fechem-se os olhos de cegueira
Queimados por gases sem fronteiras
Tolham-se as mãos dos desgraçados
Que arquitectam rapazinhos ensaiados
Ó meu Deus que fizemos nós?
Ouviu-se em algures uma voz
Quando o viram descer ao mundo
E tudo destruir num segundo
Rapazinhos como este não
Monstros de destruição não
Queremos sim um mundo melhor
Feito com paz e amor
Onde a verdade permita
Que Hiroshima se não repita.


ARIEH  NATSAC

A MINHA GALAXIA

A MINHA GALÁXIA…



Fiz do sol a minha casa
Que numa nuvem flutua
Tenho uma praia na lua
E nado num golpe d’asa


Passeio num astro qu’abrasa
No meu Éden onde actua
Sem saber qual é a sua
Frequência que me arrasa


É uma estrela que é tua
E num planeta que amua
Também o sabe cobrir



Sej' em Londres ou Kinshasa
Explorada pela Nasa
Em galáxias do seu provir.



ARIEH  NATSAC

SAUDADES DE MIM

SAUDADES DE MIM…



Ai quem me dera poder voltar atrás
Não ao tempo ruim de sal e azar
Em que me considerava bom rapaz
Saltando penhascos para te amar


Espingardas sem balas na sacola
Esgrimia  flores por qualquer dama
Corria célere atrás de qualquer bola
Apagava o fogo que m’ateava a chama


Senti na cabeça o calor de ateado fósforo
Agua-benta de procissões sem ter crença
Que passavam por mim qual meteoro


Rumei sem saber qual seria o definido
Passando a criminoso sem sentença
De guerra que nunca houvera assumido.


ARIEH  NATSAC

SILÊNCIO


SILÊNCIO


Passo no tempo que m’invade sem tempo
Eis que a noite se humilha e s’ aproxima
Oiço melodias estranhas que não conheço
Mas que a doce natureza me ensina


Os meus passos lentos são bem firmes
A terra o meu negro tapete que piso
Caminho sem ver que a luz é bem frágil
Embebo-me num luar que bem preciso

Neste meu caminhar sem ter um rumo
Do qual não conheço principio nem fim
Sei que há olhos ocultos e luzentes
Misteriosamente então postos em mim

Cego mas ainda sem estar mudo
Arrasto-me no silêncio que vai fugindo
Quero fugir num clarão sem trevas
E sentir que o doce eterno vai surgindo.



                                                     ARIEH  NATSAC

ESCREVO POEMAS


ESCREVO POEMAS NO VENTO…


Escrevo poemas no vento
Com letras de maresia
Nas nuvens procuro alento
E da noite faço dia


Corro num céu sem ter cor
Procuro o meu paraíso
Teu corpo sei o de cor
Penumbra onde deslizo


Aguas santas de mel
Na tua boca eu pressinto
Que m’ enlouquecem na pele
D’ areia do meu instinto


Mesmo assim vou escrevendo
Em noites sem lua cheia
Meus poemas que morrendo
Desfazem minha epopeia.


QUASE QUE...


QUASE QUE…



Quase que morria por ti
Em tempos que já se foram
Não sabes quanto sofri
E tudo quanto perdi
Só as saudades cá moram


Quase que tudo lá ficou
Numa guerra sem quartel
Minha juventude alterou
Vida sem flor d'sabrochou
No meu jardim sem vergel


Quase  tudo me levou
A raiva por ter partido
Dores ninguém as curou
O tempo as enferrujou
De choros com seu sentido


Quase que perdi a razão
A ti eu me dediquei
Tinha força no coração
Mesmo com armas na mão
Só palavras disparei


Quase que perdi a fé
Mas rezava sem saber
Lutando contra a maré
Quase sucumbindo até
Mas por ti podia morrer…



MEU POBRE PAÍS


MEU POBRE PAÍS….


Não sei o que deva mais fazer
P’ra isto mudar e não mais sofrer
Pois está tudo muito complicado
Para quem já está reformado


Ai como eu me fartei de trabalhar
Foram quarenta anos sempr’ a labutar
Para ter uma velhice bem sossegada
Mas só vejo roubar à descarada

E eu temendo p’lo futuro
Já não sei mais que fazer
Vou aguentando isto até morrer

Ai meu pobre e lindo país
Estás a ser aquilo que ninguém quis
Estás rodeado d’ aldrabões
Que não passam de uns vilões
Só nos estão encarcerando
Em masmorras de desespero e agonizando

Mas sabes o que eu te digo
Ouvi-los falar eu já nem consigo

E eu temendo p’lo futuro
Já não sei mais que fazer
Vou aguentando isto até morrer

Foi tão lindo aquele dia
Houve festa e muita alegria
O povo livre saiu à rua
Agora só se vive da nostalgia.

E eu temendo p’lo futuro
Já não sei mais que fazer
Tenho qu’ aguentar até morrer.


ARIEH  NATSAC