segunda-feira, 26 de maio de 2014

A BILHA DA CAPELA DE S. JORGE







A BILHA DA CAPELA DE S. JORGE 
(Aljubarrota)


O sol vai alto e abrasa
E não belisca a sua raça
O Condestável sedento
Enquanto espera o inimigo
Vai suportando consigo
Sem lançar um só lamento

Então combina com o rei:
Um pouco me afastarei
Para ver s’encontro agua
E não foi grande a lonjura
D. Nuno ajoelhou com ventura
A S. Jorge contou sua mágoa

Logo um milagre se deu
Uma mulher apareceu
Com agua fresca numa bilha
Então D. Nuno se deleita
E o rei também aproveita
Esta grande maravilha

Para perpetuar o momento
E saciar esse tormento
Mandou construir uma capela
Para a sede sempre matar
Uma bilha mandou colocar
Num nicho como sentinela.


ARIEH  NATSAC

domingo, 25 de maio de 2014

HÁ UMA RUA SEM LUZ



HÁ UMA RUA SEM LUZ


Há uma rua sem luz, a minha
Onde deslizam as ilusões que tinha
Foram meus passos perdidos
Que marquei nas horas do acaso
Onde o destino se partiu como vaso

A minha rua foi o meu destino
Que me amparou desde menino
Em momentos nunca esquecidos
Nas horas em que o amor ficou
Com as suas reações lá morou

Só aprendi depois de ver os erros
Mesmo sendo o amor meus ferros
Que me geraram transtornos emotivos
A ansiedade e a depressão constantes
Presos à minha vida como amantes

Há uma rua sem luz, que desgraça
Vejo-me lá como sombra que passa
E quase que atrofio os sentidos
Coisas que me custam a escrever
A digerir, porque continuo a crer viver.


ARIEH  NATSAC


A LEI DO MAR



A LEI DO MAR


Lá longe o mar faz-se ouvir
Sua voz é tão potente
Que assusta toda a gente
Na raiva do seu latir
Como cão impertinente
Deixa tudo na vazante
É forte a sua corrente
Que atraiçoa e também mata
Fome a muita gente
Que leva tão de repente
Gente humilde e pacata
No seu constante vai vem
Temporiza muita dor
Também sem ter amor
Tudo leva tudo traga
Por condão ou por desdita
E nem a oração bendita
A sua fúria acata
Pescadores ou banhistas
Marinheiros ou turistas
Baloiçam nas suas águas
Salgadas de tantas mágoas
Ao longe ou aqui bem perto
Desafiam o mar imenso
Que a todos fascina
Mesmo esquecendo as chacinas
Que no momento arrasa
E nem mesmo quando abrasa
Sua lei ele nos ensina.



ARIEH  NATSAC




LUA MISTERIOSA



LUA MISTERIOSA…

Lua és mistério do obscurantismo
Que o homem tenta em descobrir
Osmose de doçura e fatalismo
Que tentas em tuas faces encobrir

Iluminas amantes e salteadores
Sorris com sarcasmo e tens afectos
Orientas em mares quem sofre dores
Caminhando à deriva sem ter tectos

Partes sorridente nos teus lampejos
Sejam cama ou gritos de teus desejos
Inspiração que dás a quem procura

Princesa que s’ esconde em negro véu
Tapas os mendigos em noites de breu
Cansados de caminhos em vida dura…

                                                                                         ARIEH  NATSAC


A ONDE ISTO VAI PARAR




A ONDE ISTO VAI PARAR


Campos já estão vazios
Ninguém os quer trabalhar
Fazem dó…sinto arrepios
A onde isto vai parar?

1

São velhos e tão cansados
Já trabalharam no duro
Agora vêem tudo escuro
Os seus campos ignorados
Pela miséria destroçados
Pois andam aí uns vadios
Fogem deles como os rios
Desconhecendo o seu fim
Que será de vós de mim
OS CAMPOS JÀ ESTÂO VAZIOS

2

Maus hábitos aprenderam
Que a vida lhes ensinou
Mas também os alertou
Que o prazer que tiveram
Muitos desejos mataram
Sem terem nada a ganhar
Acabam só a roubar
Para encontrar seu sustento
E o que lhes dá alimento
NINGUÈM OS QUER TRABALHAR

3

Tantas bocas sem comer
Dobrando esquina da vida
Na valeta têm guarida
Numa angustia sem querer
E se amar é padecer
Nesta vida de desvios
Onde suores são bem frios
Nestas horas tão madraças
Por tudo aquilo que passas
FAZEM DÓ...SINTO ARREPIOS

4

Caminho que percorremos
É cruel e pedregoso
Por isso o mais cauteloso
E seguir aquele que temos
Pois só assim viveremos
O que iremos pisar
E não é sem trabalhar
Que se ganha o nosso pão
Se não mudarmos de ação
A ONDE ISTO VAI PARAR?


ARIEH  NATSAC



A MINHA SEMENTE



A MINHA SEMENTE


Teu corpo é a minha flor
Um sentimento de amor
Ao mais pequeno toque
Sempre fresca p’la manhã
Vermelha como a romã
Para mim és meu retoque


Sempre fresca orvalhada
Delírio na madrugada
De volúpias que desejo
Sou um comum dos mortais
Que procuro sempre mais
Na tua boca meus beijos


Nas pétalas que soltaste
Os meus desejos mataste
Com toda essa lassidão
Por isso volto ao jardim
Colhendo sempre em ti
Essa flor com emoção


De porta sempre aberta
És minha flor predilecta
Que acaricio suavemente
No teu jardim estou bem
Sei que ali não vai ninguém
Roubar tão bela semente.


ARIEH  NATSAC

sexta-feira, 23 de maio de 2014

FÁBULA



FÁBULA…


Na fábula mais alegre estavas tu
Encantada num personagem verdadeiro
Refugiada num vestido de carmim
Cheio de borboletas que voavam

Na imaginação da sociedade solta
Viu-se o desleixo da costureira
Que não as colocou no sítio certo
Isso deu-me vontade de rir
E a ti também

Zombaste da tua desorganização vestida
Despis-te as borboletas na mesma hora
Ficaste corada e sem reação

Olha os ponteiros do relógio
Que rapidamente avançam
É tarde para mudares de roupa
Engraçado como rodopiavas
Para apanhar as borboletas
Mas elas partiram sem um sinal

Tu, adorno do meu encanto
Ficaste despida vestida
Como um verso sem métrica
De uma fábula inacabada
Mas com a frescura da vida.



ARIEH  NATSAC

O TEU CORPO



O TEU CORPO


O teu corpo é flor
O teu corpo é mar adocicado
O teu corpo é a estrela polar
O teu corpo é cântico de amor
O teu corpo é teia que me enlaça
O teu corpo é íman que me atrai
O teu corpo é rio sem ter foz
O teu corpo é o sol da manhã
O teu corpo é lâmpada de Aladino
O teu corpo é grito sem destino
O teu corpo é o ponto cardeal
Onde me encontro
O teu corpo é pecado original
Que mais desejo.



ARIEH  NATSAC

A CINTURA



A CINTURA



A cintura é industrial
Modas fotos desenhadores
Não é safra intemporal
Em desfiles sem pudores

A cintura bem feminina
Deve ter umas medidas certas
Não se tratam com aspirina
Nem com os cintos se apertam

Uma cintura que é bem feita
 Vê-se desfilar em passarela
É um corpo que nos deleita
E s’espreita sem ter janela

Na cintura duma rotunda
Passam as horas sem ter conta
Onde mil desejos abundam
Sem vestidos que se aprontam

A cintura com seu limite
Serpenteia em carne viva
E escondendo uma artrite
Lá circula como uma diva.

ARIEH  NATSAC

A MAIS BELA VISÃO



A MAIS BELA VISÃO



Dei-te um ramo de alecrim
Que na Páscoa o fui benzer
Foi para o meu bem saber
Que está sempre junto a mim



Tu foste por mim lembrada
Implorei a Deus, aos céus
Na cruz vi os olhos teus
A olhar-me Não vi mais nada.




ARIEH  NATSAC


quarta-feira, 21 de maio de 2014

TUAS PALAVRAS



TUAS PALAVRAS


Se os rios correm para o mar
És o rio que bem quero
Nas ondas eu vou saltar
Nos meus braços eu te espero


Corres ligeiras sem medo
Procuras teu paraizo
P'ra me contar um segredo
Que me faz perder o juizo.



ARIEH  NATSAC

TODOS NÓS SOFREMOS



TODOS NÓS SOFREMOS


Todos temos que sofrer
Também Cristo sofreu na cruz
Mas seguindo sua luz
Encontramos a verdade
Que nos há-de engrandecer
Nesta vida tão espinhosa
Logo à nascença chorosa
E cheia de falsidade

Cada dia é uma tortura
Um espinho em nós cravado
É uma nota de um fado
Que aos poucos vamos sentindo
Por esta vida tão dura
Que em acordes do além
Sentimos que há alguém
Os nossos passos seguindo

Se os ouvirmos com atenção
E à nossa consciência
Não haverá tanta imprudência
O mundo será mais risonho
Conhecendo a razão
No bem a que nos conduz
Seguiremos sua luz
Em vez d’um mundo medonho.

ARIEH NATSAC

SEI BEM O QUE ESCREVO




SEI BEM O QUE ESCREVO


Não sei o que escrevo?
Sei muito bem, só eu entendo
Embora fale a mesma língua dos que me lêem
Não sou catedrático, dizem que sou poeta
Sou apenas aquilo que sou
Sei também por onde vou
Pela estrada que tracei
À minha custa com muitos sobressaltos
Apenas sinto falta do que fiz
Podia ter sido mais feliz
Paciência…
Cada um tem o que merece
Na poesia extravaso a minha dor
A minha alegria, imaginação
De tudo o que ficou além do limite
Que não soube alcançar
Nunca me perdi no caminho
E muitas vezes sozinho
Cai, levantei-me
Tal como Jesus Cristo
Também tive Madalenas, Marias, Rosas
Foram palavras nas minhas prosas
Foram versos dos meus sonetos
Os meus desejos, os meus devaneios
De uma vida atribulada
Que consegui conjugar
Conforme o tempo, mesmo fora de tempo
É assim aquilo que escrevo
Cheio de mistério, dirão uns
Outros rirão…não entenderam
Mas entendo eu!
Cada poema para mim é como um filho
Que educo à minha maneira
O que importa é que eles se dêem bem comigo
E que naveguemos em águas límpidas
Suaves neste pedaço de terra
Situado a ocidente da Europa.


ARIEH NATSAC