Cruzo as pernas e sento-me no chão
Lá fora a chuva cai de mansinho
Olho um quadro na parede de pendão
E bebo um gole num copo de bom vinho
Medito numa vida estúpida mas passada
Ouvindo uma música que não vês
Enleio-me em acordes que vêm do nada
Mas sinto-o como num concerto de Aranguês
Quisera eu que amanhã fosse outro dia
Neste chão em que me sento. Fosse veludo
Para acariciar-te em melódica sinfonia
Encontrando-te deitada e sentindo-te no escuro
Minhas mãos seriam a batuta dessa melodia
O teu corpo a pauta que eu saberia ler
Num ritmo sufocante mas de alegria
Que iria compondo para orquestra com prazer
Olho-te deslizando qual invisível partitura
Tocada ao compasso rijo, de exaustão
No ar pairam os acordes de candura
Embalados num cenário voluptuoso de solidão.
ARIEH NATSAC
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