sexta-feira, 21 de junho de 2013

SEGREDOS MENTIROSOS



SEGREDOS MENTIROSOS


Segredos! …ouvi contar
Pra deixarem de ser segredos
Pois temos que acordar
Deixarmos de sermos lerdos


Para mim penso e repenso
Isto vai de mal a pior
Ao ouvi-los fico tenso
Não sabem fazer melhor?


Vêm contar-nos mentiras
Como se fossem verdades
Só lhes faltam as liras
Pra acompanhar falsidades


Segredos pensam que são
Ditos com ar misterioso
Com uma grande devoção
Em discurso tão mentiroso


Suas mentirosas verdades
Acho que passaram de moda
São segredos leviandades
Que nos fazem andar à roda


Falam em qualquer lado
E ninguém os leva presos
Mas aqui anda desolado
O povo sem ficar surpreso.



ARIEH  NATSAC

A VELHA ARVORE





A VELHA ARVORE


 A velha árvore secou
Ao fim de tantos anos
Foi o tempo que a matou
Levando folhas e ramos


Seus frutos deliciosos
Eram um encanto sem fim
Eram grandes e formosos
E para as aves um festim


Toda a gente dela gostava
Florida era uma princesa
Cada boca adocicava
Quando seus frutos na mesa


Morreu a árvore coitada
Fiquei mais triste também
Desapareceu a passarada
Foram os seus ninhos também


Acaba tudo nesta vida
Quando chega o seu final
Por ela tive tanta lida
Era orgulho do meu quintal.



ARIEH  NATSAC

SANTO ANTÓNIO



SANTO ANTONIO…


No alto do teu andor
Ou em qualquer capela
Fazes saltar o amor
Numa simples piscadela


És atrevido mas santo
Tens Lisboa por morada
Dás ao povo teu encanto
Em Junho festa animada


Santo António eu te vejo
Numa rua ou numa esquina
Provocas um doce beijo
Na mais pura menina


E mais tarde na capela
Fazendo juras de amor
Tornas a pura donzela
Feliz no seu esplendor


E o povo sai a rua
Para aí te festejar
Até o sol e a lua
Querem na festa entrar


És um santo popular
Que dá cor ao arraial
Nos bairros toca a marchar
Numa cor sem ter igual.



ARIEH  NATSAC

HERARQUIA SEM CIVISMO




HERARQUIA SEM CIVISMO



Palácios jorrando anarquia
No meio da leviandade
Derrotes que marcam loucura
Burguesia sem amor próprio
Agulhas que cozem o vento
Em velocidade desmedida
Bens de tetravô
Que comia farelos com pão
Para engordar o sótão de rendas
Que no tempo se iria perder
Em Austerlitz dos índios
Que atiram setas de investimentos
Num mundo de hipocrisia
Onde fervilha o caldeirão dos impostos
Bem-postos numa sociedade castrada
De piedade e solidariedade
Mas onde os projectos
Fazem subir a hierarquia
Podre, corrupta e senil
Mas bajulando a mesa do santo oficio
Em busca da fronteira
Que nunca respeitaram
Nem usaram o passaporte do civismo.


ARIEH  NATSAC

SÓ PARA INGLÊS VER



SÓ PARA INGLÊS VER


Tantos braços já cansados
Pela força do trabalho
Tantas redes com buracos
Em dias sem agasalho


Campos estão moribundos
Já não se faz agricultura
Porque políticos imundos
Levam-nos para a sepultura


No mar até as gaivotas
Chilreiam em desvario
Já falta o peixe nas lotas
Pescadores tremem de frio


Que país é este meu Deus?
Desta forma não conheço
Está de bradar aos céus
Nas preces que vos ofereço


Quase ninguém tem trabalho
E os que têm são poucos
Correm em busca de agasalhos
Fogem daqui como loucos


Querem que o povo estude?
É só para Inglês ver
É falsa a sua atitude
Depois que vamos fazer?


Num país já sem dinheiro
Temos é que trabalhar
Não pedir ao estrangeiro
Que nos venha ajudar


À que arregaçar as mangas
Começar a trabalhar no duro
Deixem-se então de tangas
Tirem este país do escuro.



ARIEH  NATSAC

PEDRA SOBRE PEDRA



PEDRAS SOBRE PEDRA



Naquela várzea de pousio
Antes fora menina de olhos
Jorram ervas que arrepio
Dando frutos, tantos escolhos


Pastoreio de gado de outrora
Sustento de casa sem fartura
De quem via a bela aurora
Ávida de tanta formosura


Hoje é só tristeza e ingratidão
Abrem-se braços, desalinho
Fogem dele por não terem pão
Em busca de novo caminho


Ouvem-se dores dos mais velhos
Olhando o mato em vez de pão
São para eles malditos espelhos
Atraiçoam na idade da razão


Pedras sobre pedra são ruínas
Futuro carregado de negrume
Levadas lágrimas vão meninas
De olhos frios sem terem lume.



ARIEH  NATSAC

OS PERUS



OS PERUS


Vivo numa quinta com muitos perus
Andamos famintos quase semi-nus


Com as suas penas abrem o leque
Abordam os temas como moleque


Vê-los ao sol são tão radiosos
Só têm farol para serem famosos


Grugulejam com loas sem terem graça
Atacam pessoas mostrando a raça


Arrastam suas penas pelo chão
São os nossos dilemas sem remissão


São agrestes perus de fino porte
Enfiam-nos o capuz até à morte.



ARIEH  NATSAC