domingo, 22 de fevereiro de 2015

CHEGUEI LONGE



CHEGUEI LONGE…



Fiz-me ao mar sem cobardia
Num barco negro de lágrimas
Num choro fiz minha vaga
Com o sangue a minha paga
Remédio
Tédio
Silêncio
Pensamento
Tanto ódio e revolta
Rosários de contas à solta
Oficio
Recrutamento


Contei as estrelas ao luar
Riam-se de mim ou para mim
Tive vontade de as seguir
Mas porque agiram assim?
Mas longe estavam ali
Nunca fiquei consternado
Minha caminhada foi longa
Vi raiar nova alvorada.



ARIEH  NATSAC

HOMEM SALGADO



HOMEM SALGADO


O mar também me levou
Ao mar me entreguei
Em confissão disse tudo
Ela foi o meu escudo
Arma
Meu karma
Desarmada
Caída
Como folha que foi varrida
Do livro da vida sofrida

Fui herói sem condecoração
A coragem do meu coração
Medalha que foi sangrada
Por tudo já passado
Mas lembrado
Em cada dia que foi maré
O mar também me levou
Mas nunca perdi o pé.



ARIEH  NATSAC

POEMA VADIO



POEMA VADIO…


Tanto tempo e está dura a minha vida
Pouca coisa
Num caminho escuro e sombrio
Já bate em mim o frio
Idade
Desta cidade
Vadia
Amada
Meu amor sem contemplações
Onde as horas foram sermões
Num dia
Sem nada


Passa o tempo com seu mistério
Como navio que anda à deriva
Nas ondas eu me perco
Tal como na própria vida
Que eu cerco
Mas esbarro na solidão
Tanto tempo e está dura a minha vida
Foi maldição.



ARIEH  NATSAC

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

ONDE VIVO



ONDE VIVO…


Vivo no bairro da saudade
Vivo em rua da agonia
Tenho um luar sem idade
Onde o olhar se extasia
Tenho o perfume e beleza
Na miragem do meu rosto
Tenho céu e natureza
Bengala onde me encosto
Na lista de convidados
Nada tem importância
Como na mesa de dados
Habita sempre a ganância
Não passo da cepa torta
Tudo vai como magia
A razão já anda morta
É jardim sem teoria
Vivo no mundo sedento
Vivo com leme incerto
De educação me alimento
Num livro entreaberto
Vivo em sorriso amarelo
Vivo sem grande alarido
No meu peito hei-de tê-lo
Num momento ressurgido
Na filosofia da vida
Num calculo consumado
Analiso a letargia
E vejo um mundo quadrado.



ARIEH  NATSAC

NO TEAR DA INFÂNCIA



NO TEAR DA INFÂNCIA…


No tear da infância
Teci bons e maus bocados
Pedaços de fragrância
Receios desmascarados

Tive um trono fui profeta
Tive ameias sem castelo
A princesa predideta
Dos jograis do meu desvelo

Fui curandeiro de mim
Saciei a minha carne
Fui cravo até jasmim
No teu jardim plantei charme

Fiz juras de mãos postas
Cocei depois a cabeça
Nas letras só fiz apostas
Em bilhetes de promessas

O tear ficou vazio
Vai tecendo sem ter nada
Só tece a idade e o frio
Numa linha desvairada

Aquilo que agora visto
A azia e o fel
Ao veneno até resisto
Do tempo que é meu corcel

Saudade, é a camisa
Que visto na solidão
Que no meu corpo desliza
E algema o coração

No tear da infância
Eu teci muita ânsia…
No tear da infância
Perdi tanta distância


ARIEH  NATSAC

EM SERENATA CHOREI



EM SERENATA CHOREI


Em serenata chorei
Da letra eu me esqueci
Ao vento eu perguntei
O que era feito de ti

Não me pôde ali deixar
Ele tão louco me viu
Olhou e viu-me a chorar
Infeliz ele me sentiu

Faltaram-me então palavras
No ato de contrição
São duras minhas mágoas
Mas não quero, teu perdão

Com o coração apertado
Cansado hei-de sofrer
Na minha vida há um fado
Que nunca o vou escrever

No calor desta contenda
Há tanta coisa que espanta
Se o pensar não tem emenda
Que se emudeça a garganta.


ARIEH  NATSAC

SER POETA É SER GUERREIRO



SER POETA É SER GUERREIRO


O profunda inspiração
Fruto da nossa ousadia
Faz bater o coração
Quando um poema anuncia

Beleza que vem de dentro
Duma coisa tão natural
Dor tão dorida que canto
No meu instinto animal

Profundamente agradeço
À dor e à virtude
Resgato o que bem mereço
Na espera que tudo mude

Ser poeta como convém
É cavilha de granada
Fere sempre quem lá vem
Numa guerra estilizada

Quando vê o infinito
Pensa que é apenas seu
Levita e solta um grito
Química que aconteceu

Mas quando ele se entrega
Sem controlar emoção
À verdade ele se apega
Procura sempre a razão.



ARIEH  NATSAC

BAIA DE CASCAIS



BAIA DE CASCAIS


A minha cabeça pensa
Os meus olhos se salpicam
Com ondas de recompensa
Que em cheiros se adocicam


Em labaredas secretas
Onde num audaz fulgor
O sol em ti se liberta
Num painel com muitas cores


Tanta pele bem tostada
Uma fama bem composta
Vadiagem aprumada
À beira-mar descomposta


Num arco-íris flutuas
De cristais por apanhar
Brilhantes de muitas luas
De gaivotas a brincar


E na noite sorridente
As loucuras são reais
Numa estrofe de amantes
Na Baía de Cascais.


ARIEH  NATSAC




VI O INFERNO



VI O INFERNO…


Tive um sonho
Muito medonho
Vi tudo vermelho
Pessoas gritando
Braços esbracejando
E alguém comandando
Com ar maquiavélico
Quem seria, Satanás?
Vi olhos esbugalhados
Vi corpos amotinados
Deitando fumo
Saído das trevas
Os gritos eram medonhos
Procurando aquilo que nunca viram
Aquilo que sempre ignoraram
Eram corpos amontoados
Silhuetas histéricas
Numa desolação…montanha russa
As luzes apagavam-se e se acendiam
Numa passagem de abismo
Vi o inferno medonho
Apesar de ter sido um sonho
Tive medo
Mas não tive medo
De contar este segredo
O sono o venceu
Acabei por acordar
Aquilo que eu vi
Dá muito que pensar.



ARIEH  NATSAC

LEVANTE-SE A RÉ



LEVANTE-SE A RÉ….


Certo dia num cruzeiro
De gente rica e fina
Houve um crime por dinheiro
Que alarmou o barco inteiro
Por envolver uma menina

Tudo chorou essa perda
Por estar na flor da idade
Sua fortuna já não herda
O dinheiro é uma merda
Prova-o esta maldade

Logo se formou tribunal
Tudo, tudo com rigor
Quem teria feito o mal?
Isto não era habitual
E causou imensa dor

Muitas pessoas ouvidas
P’ra apurar o criminoso
Umas viam-se ofendidas
Outras mais destemidas
Mostravam ar curioso

O juiz desorientado
Lá fazia o seu papel
Julgando ter encontrado
Ciúme descontrolado
P’ra um ato tão cruel

Julgamento, tudo em pé
Ali estava todo o mundo
Com as palavras de fé
Ditou: levante-se a ré
E o barco foi ao fundo.


ARIEH  NATSAC

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O PÃO É VILÃO DO FUTURO



O PÃO É VILÃO DO FUTURO

Com liberdade burguesa
Fazem-se pic-nic de palavras
Canta-se o hino de uma história cega
Coloniza-se o vento sem padrão
A mãe natureza morre de fome
As últimas sementes de Abril
Foram-se sem cumprir horário
Tudo se enrola como um novelo
Antes parecê-lo que sê-lo
Mas não devia acontecer
Refugiam-se as palavras por dizer
Namoram as canções sem culpa
E finge-se que o gatilho
Desenvolve o esquecimento
Desde Lisboa à solidão
Passa o comboio levando a ilusão
Transportada da casa dos pais
Que vão morrer a namorar ao postigo
Para disfarçar o queixume que foi
Revolta por não poder caminhar
Vê-se a erva no poisio
Vê-se o lodo em vez do cais
Ceifam-se pedras e gravetos
E tanta cicatriz tantos ais
O pão é vilão do futuro
Coveiro das mortes vindouras
Enferrujam-se as foices e as tesouras
Num mapa que está ressequido
Levantem-se os de Ourique
Levantem-se os de Aljubarrota
Venham de novo os Infantes
Apague-se o interruptor da nova história
Sem haver carne para canhão
Faça-se florescer tanta glória
Desarme-se a barraca do presente
Construa-se uma liberdade diferente.


ARIEH  NATSAC

GELIDA ESCURIDÃO



GELIDA ESCURIDÃO


No tamanho da vontade
Custa-me a acreditar
Se é maior a ansiedade
Se a vontade de lutar

Em sonhos eu cambaleio
Por não ver por onde passo
No sonho só sei gritar
Ao ver-me livre sem espaço

Eu não vou acreditar
Na esfera que me rodeia
Tantas cambalhotas dou
E tanta gente me odeia

Tanto dia sem fascínio
Daqui até um abraço
Quando estou em declínio
Caminho mas troco o passo

Se eu libertasse os meus desejos
Fizesse deles obra de muitos beijos
Meus segredos seriam quedas de água
E em gélida escuridão,molhava-me tanta mágoa.


ARIEH  NATSAC

domingo, 1 de fevereiro de 2015

LEVA-ME CONTIGO



LEVA-ME CONTIGO…


Foi uma noite de trevas
Sinto falta de quem queria
Palavras martelam-me a mente
Só o cão adormeceu ao meu lado
No sofá faço as contas
Das horas com indignação
Numa batalha feita de nada
Caída na fantasia
Ó como é uma noite diferente
Com o silêncio como abrigo
Solto acordes de saudade
Num serão que é meu amigo
Nem um beijo na despedida
Nem um abraço terno e doce
Foi uma noite de trevas
Mergulho num sono leve
Vejo histórias repetidas
Aqui bem entre portas
Sussurra o vento nos beirais
Mas apenas o vazio existe
Arrasto comigo os países as viagens
Tenho medo de me despir
Faço marcha a ré
Até adormecer cansado destruído
Numa ausência prolongada
O meu maior inimigo
Leva-me contigo
Nem que seja em pensamentos.



ARIEH  NATSAC