quarta-feira, 15 de setembro de 2010

MARINHEIRO À FORÇA

Já naveguei
No mar alto
Velando ao norte
Sem ter uma bússola
Colhia dos ventos
Brisas de esperança
E vi nas vagas
Ondas de Bonança.

Fui marinheiro
Mas sem batel
Via nas estrelas
Olhos de amigo
Fui navegando
Sem ter um leme
Vivi sozinho
E ninguém me teme.

Em velas azuis
Batia o sol
Minha bandeira
Era de esperança
Meu pensamento
Era o comando
Que em cada vaga
Ia ficando.

Lia no mar
Contos antigos
Via navios
Por mim passar
Fui marinheiro
Vivi perdido
E em cada noite
Sonhava contigo.

O mundo é tão grande!
Tem tanta água!
A terra é redonda!
Vou rebolar
Dêem-me chá
De qualquer cidreira
Antes que morra
Ao passar a fronteira.

Fui torturado
No meu navio
Salguei meus lábios
Cortei o rosto
Tingi meu corpo
De outra cor
Lutei sozinho
Mas contra a dor.

Fui marinheiro
Entre coqueiros
Falando a língua
Que aprendi
Sem ter livros
Para estudar
Mares Oceanos
E não zarpar.

Estive em terra
De cor diferente
Molhei os olhos
Com o meu pranto
Quando acordei
Eu nada vi
E em cada dia
Eu mais sofri.

Sofri bem longe
Sem ter ninguém
Quando acordava
Tudo era escuro
Julguei-me morto
Mas não rezei
Mas só meus dias
Então contei.

Contando os dias
Nada encontrava
Muito calor
Minha boca secava
Sem ter palavras
Para escrever
O que sentia
No meu sofrer.

Fui escrevendo
O meu diário
O que o coração
Só me ditava
Pintei quadros
Que não imaginei
Em muitas telas
Que não sonhei.

Fui marinheiro
Na solidão
Fui navegando
Em mares de capim
Comi papaia
E não gostei
Muito arroz
E enjoei.

Tudo era exótico
À minha volta
Pessoas, flores
Que me beijavam
Na minha cara
Sentia odores
Bem diferentes
Dos meus amores.

Mas nesta força
Nesta angustia
Neste sacrifício
Sem quadrante
Morria à fome
Tão lentamente
Aqui escondido
Secretamente.

Trouxe no sangue
Todo o veneno
Trouxe a alma
Despedaçada
Perdi o norte
Fiquei tão triste
Chorei de raiva
Que ainda existe.

Neste desafio
Sem cruz ou coroa
Lei de retalhos
De velharias
Onde as saudades
Fustigam o ser
De aguas salgadas
Dum destino por tecer.

Quando vi terra
Lancei-me ao mar
Abri os olhos
Cheios de espanto
Julguei sonhar
Com o paraíso
E vi no sol
O teu sorriso.

                                                                                             ARIEH  NATSAC


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