domingo, 12 de junho de 2011

AQUELE BARCO




AQUELE BARCO….



Naquele canto da praia bem perdido lá está
Barco partido e já sem o nome de baptismo
As ondas vão e voltam e trazem o ostracismo
De auroras que ao mar se deram e ficaram lá



Valentes homens fizeram dele cama de dormir
Cobrindo-se de lençóis de arrepios e sem dor
Ferindo a alma dos que em terra sentem fervor
Daquela vastidão de cor que se perde sem florir



Casco de verde acastanhado e moribundo
Beijado por aquele mar rebelde que o cumprimenta
Sarcasticamente bailou com ele por todo o mundo



Uma dança de raiva com braços fortes a bracejar
Vendo quem era o mais forte naquela tormenta
Onde foi o baluarte até um dia se finar.



                          ARIEH  NATSAC


sexta-feira, 10 de junho de 2011

SINFONIA INCOMPLETA




SINFONIA INCOMPLETA…



Cruzo as pernas e sento-me no chão
Lá fora a chuva cai de mansinho
Olho um quadro na parede de pendão
Bebo um gole num copo de bom vinho


Medito numa vida estúpida mas passada
Ouvindo uma música que não vês
Enleio-me em acordes que vêm do nada
Mas sinto-o como em concerto de Aranguês


Quisera eu que amanhã fosse outro dia
Neste chão em que me sento. Fosse veludo
Para acariciar-te em melódica sinfonia
Encontrando-te deitada e sentindo-te no escuro


Minhas mãos seriam a batuta dessa melodia
O teu corpo a pauta que eu saberia ler
Num ritmo sufocante mas de alegria
Qu’iria compondo para orquestra com prazer


Olhando-te a deslizar qual invisível partitura
Tocada ao compasso rijo, de exaustão
No ar pairam os acordes de candura
Embalados num cenário voluptuoso de solidão.




                                                                                  ARIEH NATSAC





segunda-feira, 6 de junho de 2011

FLOR MURCHA




FLOR MURCHA…



De lampreia tens o corpo
Escrita de prosas tão marcadas
Espingarda de cano torto
Lavadeira em pedras agastadas



Flor murcha que o tempo queimou
Com aguas sujas sem ter tempo
Barrela de prantos em que afogou
A menina dos olhos em seu lamento



A brisa que passou e fez pirraça
Com testemunhos a implorar
Tornou-se na feira de cão de raça



Que rosna sílabas em tom agudo
Meteu-se por dentro sem se ocultar
Dum corpo rachado que não é tudo.



                             ARIEH  NATSAC

GUITARRA DE MEU PAI



GUITARRA DE MEU PAI



Está posta num canto sossegada
Lembrando horas que se foram
Por aquelas mãos foram abraçadas
Calando trinados que já não choram



Era tanto amor que por ti nutria
Teus acordes eram gemidos plangentes
Tocando-te a alma em melodia
Chorada naquelas horas em tons carentes



Teus embutidos perderam a sua cor
Cordas estão flácidas e desafinadas
Com angustias que serão lembradas



Pelos momentos de algum fulgor
Dedilhados por quem a ti se deu
Guitarra de meu pai com ele morreu.




ARIEH  NATSAC