Por detrás dos montes
Se esconde o silêncio
Entre mantos de oiro
Curtidos pelo agreste
Onde mora a esperança
Que os abafa em mosto
Nesta terra fria
Que gela os contrafortes da alma
Dos que erram entre rios de agonia
E desaguam em caminhos sem ter rosto.
Por eles os filhos gemem
Levantando as pesadas botas
Que os amarra à terra
Enquanto não é dia
Carregando os mistérios
Que da terra brotam
E a mãe natureza lhes vai ensinando
A urdirem o futuro
Com as linhas do presente
Em teares feitos de nada
Numa pureza amarga e doce.
O sol bravio
Aos poucos os vai queimando
E regando com o suor
Como se um cavaco fosse.
Torcido, ressequido e gemendo
Rasga a charrua o filão
E a enxada cobre de terra
A semente
Que castigada, fustigada
Rompe da terra rumo ao céu
Ao sabor do vento
Num hino de amor e liberdade
Mesclado de flores de amendoeira
Que enfeitam um terço de pedras
Com que reza à natureza perdida
E acolhe saltimbancos
Que passam no silêncio a fronteira.
Por de trás dos monte
Ai como o descanso é duro
Pesado como a canga da mentira
Benzida por crepúsculos sombrios
Que escondem a verdade
Dum dia a dia cada vez mais escuro
Malhado nas bigornas
Onde se cravam as ferraduras
Da mula da vida
Que tantos coices nos dá
E nos enrola como molhos.
Mas não se abrem os olhos
Dos que apenas sabem a linguagem do gado
Ou fazem musica com a flauta de pã
E aprendem a destreza das aves de rapina
Que se empoleiram nos cornos do destino
Que cheira a vinho, azeite e amêndoa
E tem sabor a figo e a noz.
Amo-vos meus irmãos. Amo-vos
Mesmo olhando os montes
Por de Trás-os-montes
Onde se esconde o amarelo da fome
O verde da esperança
E o azul de cada dia que nasce
Quando a noite se despede de vos
Amo-vos meus vigilantes
Que quando morrem
É sempre como homens
De pé.
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