quinta-feira, 28 de outubro de 2010

UM DIA NO RIBATEJO



Seguindo eu estrada fora
Quando rompia a aurora
Parei para ver nascer o sol
E o desfilar de tipóias
Que traziam das rambóias
Gente de todo o escol.

Com todo o ar de boémio
Tinham nas margens o prémio
As aguas doces do Tejo
Parecia um quadro de génio
Das minhas horas de tédio
Passadas no Ribatejo

Quando o sol despertou
Um campino aparelhou
O seu cavalo de raça
Julguei estar a sonhar
E perdi o meu olhar
Naquela beleza e graça

Olhei então a lezíria
E vi toda aquela fúria
Dos toiros em manada
Vi o garbo do campino
Pondo em risco o seu destino
Naquela grande parada

Parada de gado bravo
Ele é como soldado
Que enfrenta o inimigo
Com o pampilho na mão
Corre com o seu alazão
Sem nunca temer o perigo

E se há alguma investida
Pondo em risco a sua vida
Como é belo esse momento
Partem os dois à desfilada
Como se aquilo não fosse nada
E nem se houve um lamento

Mas eis que a noite aparece
E a lezíria se empobrece
Como se alguém tivesse morrido
No meio de cavalos e toiros
Que são dos maiores tesoiros
Neste cenário colorido

Quando deixou de brilhar o sol
Que aquece como cachecol
As margens frias do Tejo
Eu lancei um último olhar
E vi que estava a chorar
Um velhote do Ribatejo

Depressa o abordei
E com ele conversei
Para saber qual a razão
Diz-me o homem a chorar
Acabam de me roubar
O sol que me dá o pão

A noite escurece a campina
É como ave de rapina
Que tudo me vem tirar
Não vejo cavalos nem toiros
São eles os meus tesoiros
E que me fazem chorar

Compreendi a sua mágoa
E em cada gota de agua
De uma lágrima atrevida
Eu vejo a sua imagem
Reflectida na coragem
Ao longo da sua vida.


                                                                   ARIEH NATSAC





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