É homem
Onde é que vais?
Vou para o campo meu senhor
Vou visitar o arado
O meu ganha-pão
O meu tesoiro abençoado
Para lá daquele pinheiro
Que o sol nascendo vê primeiro
Lá fica no chão enterrado
Quer chova ou faça sol
Está sempre à minha espera
E no local onde o deixo
Pois nunca desespera
Como ele rasga a terra
Sempre na mesma direcção
E nunca me diz que não
Agora só venho à noite
Se este joelho me deixar
Se não deito-me na cabana
E lá faço a minha cama
Até o sol despertar
De noite não tenho frio
Apesar da geada que cai
Embrulho-me no meio da palha
E seja o que Deus me valha
E assim o frio se vai
Já tenho 80 anos
Embora a ninguém pareça
Apesar de grande luta
Por toda esta labuta
Ainda tenho boa cabeça
Olhe!
Aqueles moinhos além
Quase me viram nascer
Pois era ali que a minha mãe
Farinha ia moer
Bem. Agora tenho que ir
Pois o sol já vai alto
Já vejo o rio a brilhar
Agora só venho à noite
Se este joelho me deixar
Venha daí comigo
Sempre se distrai um bocado
E se tiver jeito
Pode-me apartar o gado
Mas como já lhe disse
Agora só venho à noite
Se este joelho me deixar
É com as minhas ovelhas
Com o meu burro
E com o meu arado
Que vou ganhando o pão
Pelo senhor abençoado
Por isso é que eu só venho à noite
Se este joelho me deixar
E amanhã à mesma hora
Já estarei a caminho
Quando o galo cantar
Pelo meio destes pinhais
Ouvindo talvez a sua voz
É homem
Onde é que vais.
ARIEH NATSAC
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