QUEM
CANTA OS SEUS HORRORES
(Pode
ser cantado com a música dos Índios da meia praia)
José
Afonso
Esta letra é de minha autoria
Tenho
um Janeiro no peito
De
águas frias a correr
Quer
na vida quer no leito
Já
o sol me faz tremer
Com
café quente na mesa
Num
inverno p’ra adoçar
Tenho
a chuva por fineza
E
um frio que é meu olhar
Olhando
atrás da janela
Borbulham
gotas no chão
São
do tempo as aguarelas
Com
chá quente de limão
Lá
fora o mundo é espelho
De
uma vida de um projeto
Tenho
no bolso o conselho
Dum
livro com todo afeto /
Se
as folhas amarelarem
Tenho
um cheiro a bafio
São
como cãs a bailarem
Na
velhice ao desafio
E
quem canta seus horrores
São
trevas nas frases feitas
Não
me iludo com favores
São
as arcas com maleitas
Se
a coisa for tão vulgar
Como
será noite escura?
Tudo
me dá que pensar
Como
deu a ditadura /
Nascendo
já encontrei
Uma
vida com defeito
Uma
chama que ateei
Ardendo
dentro do peito
Há
muitas horas amargas
Que
eu quero esquecer
São
as dores nas ilhargas
Que
me fazem padecer
E
se a gente se distrai
Logo
vem o anticristo
Para
ver se a gente vai
Escapar
a algum registo
E
toda a fraca figura
Que
desce à noite ao relento
Tenta
matar a secura
Que
em amor procura alento /
Nem
subindo os Himalaias
Consegue
tocar o céu
Apenas
se despe em praias
Pondo
triste corpo ao léu
É
com olhos inocentes
Que
procuram ter um pão
São
como estrelas cadentes
Que
tombam no meio do chão
Fazem
parte da escritura
Da
escritura que é sagrada
Que
é lida na sepultura
Quando
se vai de abalada /
Que
a justiça seja feita
Ao
menos no fim da vida
Ela
que foi contrafeita
E
por vezes esquecida
Agora
p’ra terminar
Que
o esqueleto já me dói
Ao
mundo quero lembrar
Que
também já fiz de herói. /
ARIEH NATSAC
Sem comentários:
Enviar um comentário