SINFONIA INCOMPLETA…
Cruzo as pernas e sento-me no chão
Lá fora a chuva cai de mansinho
Olho um quadro na parede de pendão
Bebo um gole num copo de bom vinho
Medito numa vida estúpida mas passada
Ouvindo uma música que não vês
Enleio-me em acordes que vêm do nada
Mas sinto-o como em concerto de Aranguês
Quisera eu que amanhã fosse outro dia
Neste chão em que me sento. Fosse veludo
Para acariciar-te em melódica sinfonia
Encontrando-te deitada e sentindo-te no escuro
Minhas mãos seriam a batuta dessa melodia
O teu corpo a pauta que eu saberia ler
Num ritmo sufocante mas de alegria
Qu’iria compondo para orquestra com prazer
Olhando-te a deslizar qual invisível partitura
Tocada ao compasso rijo, de exaustão
No ar pairam os acordes de candura
Embalados num cenário voluptuoso de solidão.
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